Uma coisa que os oftalmologistas precisam entender é que eu não confio em mim, confio neles. Não adianta trocar as lentes e perguntar qual eu acho que é melhor: eu não sou confiável. Eles estudaram olhos, eles que são.
Mas não adianta, o diálogo é sempre o mesmo:
– Me fala com qual lente você enxerga melhor. Essa? Ou essa?
– Hum. Calma.
– Essa? Ou essa?
– Essa. Não, a outra. Volta pra primeira.
– Essa?
– Isso, é essa.
– Ou essa?
– Ah, não, acho que não é a primeira, é a segunda.
– Essa?
– Isso, a segunda.
– Ou essa?
Talvez todos eles sofram de baixa autoestima e isso gere insegurança no trabalho – fazendo com que joguem na gente o peso da escolha e se eximam da culpa caso os óculos fiquem uma merda.
– Vish, será que é a primeira? Volta nela.
– Essa?
– Tá, é essa.
– Ou essa?
– Ai, não, é a segunda. Ou a primeira. É uma das duas. Volta.
– Essa?
– Definitivamente, é essa.
– Ou essa?
– Porém, pode ser essa outra também, viu.
E vai daí pra pior.
Talvez todos eles sofram de baixa autoestima e isso gere insegurança no trabalho – fazendo com que joguem na gente o peso da escolha e se eximam da culpa caso os óculos fiquem uma merda. Ou talvez eles sejam malvados e só façam isso para rir da nossa cara – vai ver, eles fazem streaming dos exames para uma Netflix Oftalmológica e depois comentam entre si sobre como os pacientes são burros.
De qualquer forma, tudo isso é bem chato. Chato pra cacete. Legal é ser oftalmologista.