Entrou na sala com o ovo de Páscoa.
– Olha aqui, filho! O coelhinho deixou pra você.
O menino começou a chorar. A esposa chamou o marido de canto.
– Calma, deixa eu conversar com ele, amor.
– Pro quarto, Adolfo. Agora!
Foram para o quarto.
– Mas vai deixar o menino chorando lá na sala, Margarete?
– Adolfo, olha pra mim.
O marido ficou de cabeça baixa.
– Nada a ver deixar o menino chorando na sala.
– Adolfo, cadê a porra do ovo do Batman?
– Não deve ser por isso que ele tá chorando.
– Ele queria um ovo do Batman. Você entregou um ovo do Homem de Ferro.
– É a mesma coisa! É tudo herói, os dois vieram de família rica e só viraram alguma coisa por causa do dinheiro.
– Adolfo do céu!
– É verdade, Marga.
– Eu comprei o ovo do Batman há um mês, cadê esse maldito ovo?
– Vamos lá acalmar nosso filho, não vai adiantar nada discutir.
– Estava em cima do armário. Cadê o ovo?
– Eu tive que comprar outro.
– Teve que comprar outro por quê?
– Depois eu explico, vamos conversar com o moleque.
– Conversar sobre o quê? Sobre como o coelhinho cagou para o ovo que ele queria e trouxe outro?
– A gente fala que o coelho prefere a Marvel ao invés da DC.
– Eu vou quebrar aquele ovo na sua cara.
O marido permaneceu de cabeça baixa.
– Nada a ver deixar o menino chorando na sala.
– Adolfo, cadê a porra do ovo do Batman?
– Não deve ser por isso que ele tá chorando.
– Ouve, Margarete! Seu filho tá gritando na sala e você discutindo super-herói aqui.
– Eu não vou sair desse quarto enquanto você não me disser porque trocou o ovo.
– Eu não troquei.
– Eu comprei um do Batman. Ele não ganhou o do Batman. O do Batman sumiu.
– Mas ele adora o Homem de Ferro!
– Cadê o ovo do Batman?
Adolfo respirou fundo e olhou para a esposa.
– Eu não encontrei mais. Tinha esgotado no mercado.
– Mas encontrar por quê? Estava comprado! Estava na nossa cozinha.
– Aconteceu um imprevisto.
– Imprevisto?
Olhou para baixo novamente.
– Um imprevisto.
– Adolfo Fernandes!
– Olha, aconteceu um imprevisto ontem e eu saí pra comprar outro, mas não achei mais. Daí escolhi o herói mais parecido.
– Qual imprevisto?
– Não faz diferença falar, agora já foi.
– Não foi.
O menino continuou chorando, cada vez mais alto.
– Eu abri o ovo e não consegui mais embrulhar no formato que estava, pronto, foi isso.
– E por que você não me chamou pra ajudar?
– Eu tentei. Só que quando estava vindo aqui pro quarto com o ovo na mão, eu tropecei, caí em cima dele e aí ferrou de vez.
– E por que você foi abrir a merda do ovo da criança?
Adolfo virou de costas para a esposa e começou a sair do quarto devagar.
– Eu queria ver o bonequinho que vinha dentro.