Um amigo me contou que você ia chegar na segunda-feira. Como sempre, fiquei toda ansiosa, cheia de expectativas, contei pra família e para alguns vizinhos que encontrei no elevador. Era a nossa hora, eu sentia: a gente ia voltar a ser feliz junto.
Abri o armário e separei peça por peça, apenas as roupas que você adora. Aquela jaqueta que eu só usava pra você e não colocava há muito tempo, a meia-calça que talvez não me servisse mais, a bota de cano alto que eu nem me lembrava que existia, as luvas que me davam alergia e eu insistia em usar… Foi tudo pra máquina de lavar. Passei o fim de semana lavando, estendendo, secando e, entre um prendedor e outro, pensando em você e nas saudades que deixou.
No domingo, ao me deitar, dei aquele sorrisinho de canto de boca, pensando no que estava por vir. Cada movimento estava planejado dentro da minha cabeça, seria um dia perfeito depois de tanto sofrimento – o primeiro de muitos.
Passei o fim de semana lavando, estendendo, secando e, entre um prendedor e outro, pensando em você e nas saudades que deixou.
Dormi como há muito não dormia, em paz, aproveitando cada hora de descanso. Acordei uma vez ou outra para matar um pernilongo, é verdade, mas logo voltei a sonhar – com você, sempre você.
A segunda-feira enfim nasceu. Às seis, o despertador tocou e eu levantei cheia de disposição. Às dez, comecei a duvidar que você viria. Às três, resolvi aceitar que tudo tinha sido em vão – sua chegada era uma grande mentira.
E na terça, quando a esperança dentro de mim já estava completamente morta, uma surpresa: você. E, junto, todos os planos que eu havia feito, a alegria, o abraço quentinho com cheiro de sabão em pó. Era real, você estava ali comigo! Mas, na manhã seguinte, a decepção: você havia partido novamente, sem se despedir, sem avisar pra onde, se voltaria, porque ficou tão pouco. E por que sempre tão pouco?
Era a desilusão que faltava para que eu desse a volta por cima – obrigada por isso, às vezes a gente precisa chegar ao fundo do poço para perceber que poderia ter saído dele há muito tempo.
Hoje, nesta segunda-feira histórica, uma semana depois, acordei decidida a não permitir mais que você me faça sofrer com suas idas e vindas. A vida é como é, e pode ser maravilhosa sem você aqui; enquanto seguro um cubo de gelo na nuca com o notebook no colo, sinto o maior orgulho por poder falar sem hesitar: eu não preciso de você, frente fria, e não quero mais que volte. Comprei um ar-condicionado.