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Home Crônicas Helena Perdiz

Vacina da gripe

porHelena Perdiz
29 de junho de 2017
em Helena Perdiz
A A
"Vacina da gripe", crônica de Helena Perdiz.

Imagem: Reprodução.

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Parou o carro em frente à clínica de vacinação.

– Pronto, já estamos aqui. Agora você vai tomar a bendita da vacina da gripe.

– Não vou. Já falei que você não vai me obrigar.

Deu uma porrada no volante.

– Larga a mão de ser ridículo! Você tá me fazendo passar vergonha. Solta esse cinto de segurança agora.

– Mãe, é um direito meu.

– Deixou de ser na hora que eu paguei pela porra da vacina.

– Capitalista!

Na semana anterior, ele havia chegado até a sala de aplicação, mas saiu correndo. A dose já estava paga.

– Escuta aqui, Dudu, você vai descer desse carro agora, nós vamos entrar na clínica e eu não vou sair de lá enquanto você não estiver totalmente protegido contra a H1N1.

– Então você vai ficar lá dentro pra sempre, porque eu não vou tomar essa merda.

Arrancou o celular da mão dele.

– Só devolvo depois de vacinado.

– Isso é um absurdo!

– Absurdo é esse medo de injeção. Tem nenê que faz menos escândalo que você quando vê agulha. Você não é mais nenê, Dudu.

– Não é medo. É aflição.

Destravou as portas e chacoalhou a mão para a frente.

“- Mãe, é um direito meu.
– Deixou de ser na hora que eu paguei pela porra da vacina.
– Capitalista!”

– Vai, desce, desce logo. Vamos acabar com isso de uma vez.

– Eu vou descer, mas não vou tomar vacina nenhuma.

Os dois ficaram parados na calçada. Da janela da clínica, as funcionárias assistiam a tudo de camarote – olhando umas para as outras e rindo baixinho.

– Dudu, filho, não me faz passar vergonha. Por favor, são cinco minutos e a gente vai embora.

– Eu não sou obrigado a tomar essa vacina, mãe! Não enche.

– Eu vou ter que chamar alguém lá dentro pra levar você arrastado? É isso o que você quer?

– Chama! Quero ver!

A mãe entrou na clínica. Voltou com dois funcionários – que não conseguiam parar de rir.

– Eles vão acompanhar você.

– Eles não podem me tocar! Vocês não podem me tocar! Eu vou chamar a polícia!

Se jogou no chão e ficou deitado na calçada. A mãe, com as duas mãos apoiadas no carro e olhos fechados, sem saber o que fazer.

– Podem buscar a vacina, ele vai tomar aqui mesmo.

– Não!

– Vai tomar aqui mesmo, chega dessa palhaçada. Que vergonha!

– Mãe, por favor, mãe! Por favor, não!

Começou a chorar e gritar.

– Dudu, olha pra mim. Você é um ser humano perfeitamente saudável, com uma vida maravilhosa, você levante desse chão agora e enfrente esse medo porque eu já tô perdendo a paciência.

– Mãe, eu não vou conseguir. Eu não tô preparado.

– Dudu, você tá. Chegou a hora.

– Ainda não, mãe, ano que vem eu tomo.

– Dudu, você tem 37 anos, puta que pariu! Levanta desse chão! O que sua esposa ia pensar se estivesse aqui?

– Tá bom, eu levanto. Não conta pra ela, por favor. Por favor!

Tags: ClínicaCrônicaDudufilhogripeH1N1MãepaciênciaVacinaVacina da Gripevergonha

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