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Home Crônicas Henrique Fendrich

Encontro com minha mãe

porHenrique Fendrich
27 de março de 2019
em Henrique Fendrich
A A
"Encontro com minha mãe", crônica de Henrique Fendrich.

Imagem: Reprodução.

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Sou motorista de caminhão. O que vou narrar para você aconteceu alguns dias depois do Natal. Era noite e eu atravessava o estado de São Paulo, a fim de chegar até Goiás, destino da minha encomenda. Viajava sozinho, como de hábito. Por volta das nove horas, eu senti um arrepio no meu corpo e tive a impressão de que havia mais alguém no caminhão. Olhei para o banco de passageiros, mas não vi nada. Continuei o meu caminho, mas dali a alguns poucos quilômetros tive a mesma sensação. E, dessa vez, ao olhar para o banco ao meu lado, visualizei a minha mãe, sentada e olhando para frente. A minha mãe havia se suicidado há mais de 20 anos. Ela parecia ter a mesma idade que tinha ao morrer. Embora eu estivesse admirado de que ela estivesse ali, a visão de minha mãe não chegou a me assustar. Posso dizer que havia até um pouco de alegria, por reencontrá-la depois de tanto tempo. O curioso é que ela olhava apenas para frente e não chegava a me fitar.

Ao olhar para o banco ao meu lado, visualizei a minha mãe, sentada e olhando para frente. A minha mãe havia se suicidado há mais de 20 anos.

De fato, dei-me conta de que ela estava muito ansiosa e preocupada com alguma coisa. Isso não era algo muito comum para ela, mesmo quando estava viva. Sempre foi uma mulher que, diante dos outros, mantinha as suas emoções sob controle – apesar da morte que escolheu para si. E, ao olhar para ela e ver a sua preocupação, eu tive o desejo de fazer com que ela se tranquilizasse de alguma maneira. Queria que ela soubesse que estava tudo bem comigo, e que não guardávamos nenhuma mágoa pelo acontecido.

– Mãe! Veja, está tudo bem comigo. A senhora pode ficar tranquila, não precisa se preocupar.

Entretanto, ela não pareceu dar muita atenção ao que eu havia dito e continuava compenetrada e, em silêncio, olhando para frente. Eu pensava que ela não queria ou não podia falar nada, mas então ela se dirigiu a mim e falou as suas primeiras palavras, que eu ouvi como uma forte impressão na minha mente, e não como os sons audíveis a que nos habituamos:

– Você precisa encontrar um hospital.

Um hospital? Eu não entendi o que ela queria dizer com aquilo. Achei que seria alguma lembrança do tempo em que estava viva, alguma reminiscência da sua própria morte, embora eu não fizesse ideia do motivo por que aquilo estava acontecendo no banco do passageiro em meu caminhão. Enquanto pensava no que responder, ela voltou a falar comigo:

– Vire aqui. Vire e siga reto.

Ora, o caminho apontado por ela me faria sair da rodovia e entrar na cidade pela qual passávamos. Eu tinha horário para chegar em Goiás, mas não sei o que me deu, o fato é que eu resolvi fazer o que ela me pedia, nem que fosse para vê-la mais tranquila. Virei e segui reto, como ela havia dito, mas nem por isso ela parecia menos preocupada do que antes.

Resolvi então falar um pouco sobre a minha vida para ela. Contei do meu casamento, falei que ela já tinha dois netinhos. Nada disso a comoveu, e eu ainda tinha que ouvir um comentário gélido:

– Concentre-se na estrada.

Ela continuou me orientando por aquelas ruas desconhecidas, pois eu nunca havia estado naquela cidade. Entretanto, depois de alguns minutos, nós chegamos efetivamente a um hospital. Perguntei a ela o que deveria fazer então. Ela respondeu que eu devia escrever informações de contato. Queria que escrevesse os números de telefone da minha esposa e da empresa para a qual eu trabalhava. Percebi que, por algum motivo, ela parecia acreditar que eu devia procurar ajuda naquele hospital, mas eu estava me sentindo absolutamente bem. Entretanto, aquela era a minha mãe e, outra vez, eu fiz o que ela me pedia.

Assim que terminei de escrever, ela me disse claramente para ir até o pronto-socorro. Eu tratei de tranquilizá-la e disse que faria isso imediatamente, apesar de não fazer a menor ideia do que eu faria lá dentro. Comecei a caminhar para lá, mas então alguma coisa aconteceu, porque eu comecei a me sentir terrivelmente cansado e a entrada do pronto-socorro parecia cada vez mais longe. Pensei então em voltar para o caminhão e retornar mais tarde. No entanto, assim que fiz menção de me voltar, senti como se as duas mãos de minha mãe me agarrassem e me levassem para frente. Tive então que continuar, mas no meio do caminho a minha visão ficou turva.

Em seguida, tudo escureceu e eu apaguei.

Tags: ContoCrônicaespíritosexperiência místicafantasmaLiteratura FantásticamistérioSobrenaturalSuspenseterror

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