Hoje, o brasileiro que nasce tem a expectativa de viver 76 anos. É preciso, porém, ter em conta de que forma esse tempo todo é empregado. É sabido que, idealmente, uma pessoa dorme oito horas por dia. Ou seja, o brasileiro que nasce tem a expectativa de passar ao menos 25 anos dormindo. Mas não é só isso. Consideremos que uma pessoa passe, digamos, 45 minutos por dia se alimentando. De 76 anos, ela terá gasto cerca de 2,4 anos comendo. Levando uma hora por dia para preparar as refeições principais, a pessoa gastará mais três anos apenas se preparando para comer. Com mais 45 minutos (é um cálculo conservador) gastos ao longo de um dia para lavar a louça, limpar o fogão, varrer, passar pano de chão, limpar mesas e bancadas, somam-se outros 2,4 anos. Diz uma pesquisa que uma dona de casa pode gastar até nove horas por semana para lavar, secar e passar a roupa. Consideremos menos, digamos, seis horas. Isso dá cerca de dois anos e meio dedicados à roupa.
Ignoremos o tempo gasto para beber água, que não nos atrapalha muito e pode ser feito durante as refeições. Deve-se, porém, levar em conta o tempo gasto para escovar os dentes. Uma escovação decente leva no mínimo três minutos. Três vezes ao dia, são nove minutos. No fim das contas, você gasta quase seis meses da sua vida de 76 anos unicamente para escovar os dentes. O fio dental, desde que passado duas vezes ao dia, exigirá outros seis meses. E lá se foi um ano apenas para cuidar da sua higiene bucal.
Uma escovação decente leva no mínimo três minutos. Três vezes ao dia, são nove minutos. No fim das contas, você gasta quase seis meses da sua vida de 76 anos unicamente para escovar os dentes.
Também é preciso tomar banho, afinal. Se a pessoa levar ao menos 15 minutos, desde que entra no banheiro até sair de lá, gastará quase 10 meses da sua vida tomando banho. Contando ao menos um minuto para ir urinar, seis vezes ao dia, gastaremos mais quatro meses. E isso sem contar ainda que no mínimo três meses da sua vida serão gastos defecando.
Vamos supor que se trate de um homem, pois a mulher deveria acrescentar ainda um tempo a ser gasto com maquiagem, depilação… Pois bem. O que mais? Compras no supermercado. Contando com as filas, vamos supor que se gaste uma hora e meia por semana fazendo compras no mercado. Ao final de uma vida de 76 anos, são quase 5 anos no mercado.
Deslocamento. Não é exagero imaginar que, mesmo de carro, nas grandes cidades, a pessoa leve ao menos duas horas por dia só para ir de um lugar ao outro, contando trabalho e lazer. Às vezes levará mais, e na velhice não irá sair tanto de casa, mas usemos duas horas. Ora, isso tudo consome incríveis 6,3 anos de uma vida de 76.
Naturalmente, há o tempo que gastamos para trabalhar, coisa que, às vezes, até se confunde com a vida, embora seja bem diversa. Considerando que se trabalhe por 35 anos, oito horas por dia, de segunda à sexta, e já considerando um mês de férias, ao final teremos no mínimo sete anos diretos de trabalho, às vezes trabalho que a gente nem gosta.
Lembremos ainda do tempo gasto na escola e na faculdade. Dezesseis anos de estudo, e isso só em meio período, com 200 dias no ano letivo, levarão a um resultado de um ano e meio só em sala de aula.
Vejam que eu não cheguei a contar o tempo que se gasta no banco, na farmácia, no dentista, no posto de gasolina, passando aspirador, cortando a grama e as unhas, fazendo a barba. Mas tudo o que falei já chega perto dos 60 anos de uma vida de 76. Sobram 16 anos, sendo que pelo menos uns 6 deles a gente passa encantado, no tempo da nossa primeira infância. Na idade da razão mesmo, sobram uns 10 anos para a vida. Uma década. E o pior que é uma boa parte desse tempo a gente gasta de bobeira na internet ou, como dizia o velho Braga, andando atrás de mulher que não quer saber da gente. Ah, não são boas as expectativas de vida.