Você é convidado para uma festa qualquer e não tem a menor vontade de ir. Não é que não goste das pessoas que vão estar lá, você simplesmente não se sente bem nesse tipo de ambiente. Sempre que o convidam é um tormento, porque você sabe que não quer ir, mas não sabe como dizer isso de uma forma que não seja grosseira, e também não tem a intenção de mentir deliberadamente. Então você gagueja uma resposta que pretende demonstrar consideração pelo convite, mas sempre cuidando para não assumir um compromisso de ir. O ideal é que o outro pense que há a possibilidade de você ir, mas que também não se espante se, por acaso, você não aparecer por lá.
Às vezes o convite vem de quem já o convidou outras vezes e você não foi. Às vezes a pessoa diz que “dessa vez” você não pode faltar. Isso só serve para aumentar o seu sentimento de culpa. Porque, apesar de saber que não se sente bem nesses lugares, você no fundo acha que tem realmente a obrigação de ir e que seria um péssimo amigo se não fosse. Quanto maior a culpa que conseguirem colocar em cima de você, maior a probabilidade de que você acabe indo.
E então você vai. De vez em quando você vai. E se engana quem acha que você já sai de casa certo de que não será uma experiência agradável. Uma vez que tenha decidido ir, você começa a achar motivos para acreditar que, dessa vez, a coisa será melhor e você irá se sentir confortável. Mas essa esperança já sofre um abalo no exato instante em que você chega.
Você olhar ao redor e vê muita gente, mas não as pessoas que conhece. Não sabe como agir. Sabe que não pode simplesmente ficar parado sozinho em um canto, pois as pessoas vão perceber e vão achar estranho. É essencial que você passe a impressão de que está ocupado fazendo alguma coisa, e por isso você anda daqui para lá, na esperança de encontrar alguém. Onde estão os seus conhecidos? Você entra no banheiro, não porque esteja com vontade, mas apenas para parecer que está fazendo alguma coisa. Você mal chegou, mas já pensa em ir embora.
Depois de um tempo, aparece um conhecido e você já está em uma rodinha. Dela também fazem parte pessoas que você nunca viu. E você se sente intimidado diante delas. Você já não fala muito, mas se há desconhecidos você nem sequer abre a boca. E mesmo os conhecidos gostam de beber, de dançar e de fazer, em suma, tudo o que se faz em uma festa. Só você está tenso e não se diverte. Pessoas surgem e dizem “ah, que bom que você veio”. Para elas, não importa que você esteja se sentindo mal – elas se consideram satisfeitas se tão somente você estiver ali.
Só você está tenso e não se diverte. Pessoas surgem e dizem ‘ah, que bom que você veio’. Para elas, não importa que você esteja se sentindo mal.
Aos poucos, nem os seus conhecidos estão se preocupando com você. Eles conversam, conversam e riem e você vai se apagando, se apagando, como se não estivesse ali ao lado deles. É quando você pensa “como fui idiota ao achar que hoje seria diferente”. Você está só e sentindo um miserável, mas ao seu redor estão todos juntos e felizes. Se alguém olhar para você, vai perceber o seu estado lastimável e isso vai estragar o clima da festa. Você se sente culpado por estragar o clima da festa. Você sente que ficar ali do jeito que você está é uma censura à festa. E por isso você quer sair correndo desesperadamente dali. Mas não sai, porque seria muito indelicado sair sem se despedir de ninguém, e caso fosse se despedir as pessoas iriam usar argumentos para que você ficasse.
Só lhe resta ficar. Você olha ao seu redor e se pergunta se o paraíso não seria assim também: uma porção de gente feliz e você isolado em um canto, fingindo que está tudo bem. Será que essa aflição irá continuar depois da morte? Ah, a morte, até que ela lhe cairia bem nesse momento.
Mas você não morre.