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Home Crônicas Henrique Fendrich

Há 100 anos, um casamento

porHenrique Fendrich
25 de agosto de 2021
em Henrique Fendrich
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"Há 100 anos, um casamento", crônica de Henrique Fendrich.

Imagem: Acervo Familiar.

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Era um casamento inter-religioso. Ele era filho de imigrantes da Pomerânia e da Prússia, onde, há muito tempo, predominava a religião luterana. Ela, por sua vez, era filha de imigrantes da Boêmia, bem perto da fronteira com a catolicíssima Baviera, de tal sorte que também era essa a religião que professava. Eram tempos em que até os cemitérios expunham a incompatibilidade entre as crenças: um lado luterano, outro católico. Contudo, eles estiveram entre os que acharam que isso não seria empecilho para uma vida em comum e se casaram – no civil.

Escrevia-se o dia 27 de agosto de 1921. Naquele sábado, o noivo, Rodolfo Giese, estava com 23 anos de idade, quase 24, os quais completaria no mês seguinte. Media 1,76m, tinha olhos azuis e cabelos castanhos. Entre 1919 e 1920, após ter sido sorteado para o serviço no Exército, havia servido no Quartel da 18ª Companhia de Metralhadores de Blumenau. Um dia, chegou ao quartel depois da patrulha e por isso ficou detido por 48 horas. Em outro momento, conseguiu uma licença para ir a Joinville se tratar de influenza – aqueles eram os anos imediatos à Gripe Espanhola. Concluído seu tempo de serviço, retornou a São Bento do Sul, onde havia nascido.

Até os cemitérios expunham a incompatibilidade entre as crenças: um lado luterano, outro católico. Contudo, eles estiveram entre os que acharam que isso não seria empecilho para uma vida em comum e se casaram – no civil.

A noiva, Catharina Bail, também são-bentense, era mais velha, já havia completado 25 anos. Seu pai, um simples campônio, havia protagonizado uma história de Romeu e Julieta nos primórdios da cidade: ele e sua esposa haviam se casado contra a vontade dos pais dela, mas o casamento terminou precocemente de forma um tanto trágica, com a noiva morrendo de tifo e sem geração. Catharina era filha da segunda esposa desse homem, a qual, no entanto, também já era morta naquele ano de 1921. O pai ainda abençoou aquela união.

Tão logo se casaram – há 100 anos –, Rodolfo e Catharina foram viver em uma casa no bairro Mato Preto, em São Bento, mas não ficaram muito tempo ali: já em janeiro de 1922, mudaram-se para Campinas dos Crispim, localidade de Piên, já no Paraná. Até então, Rodolfo havia trabalhado como sapateiro, mas ali comprou uma casa de negócios, construção simples e de madeira, e começou a negociar.

Esse seu comércio levaria o nome de “Casa São Crispim”. Era uma daquelas vendas em que se atendia no balcão. Ali eram vendidos artigos variados como açúcar, sal, farinha, erva-mate, feijão, batatinha e outros produtos da própria lavoura da família. Também havia tecidos, calçados e chapéus (a maioria de palha) e mantimentos em geral. Até remédios homeopáticos eram vendidos. Compravam e revendiam produtos de viajantes que passavam pela região e Rodolfo percorria ele próprio as localidades vizinhas oferecendo produtos e adquirindo outros.

Eram tempos de longas viagens de carroça por estradinhas de chão, sem macadame, por vezes cortando riachos e terrenos alheios. Em sua propriedade, criavam vaca, cavalo, porco e galinha. Havia apenas mais um comércio na região e o empreendimento de Rodolfo passou a atrair clientes de lugares distantes.

Rodolfo era homem atento às novas tecnologias do seu tempo. A sua casa de comércio foi uma das primeiras a substituir as balanças de peso pelas de ponteiro, muito mais precisas. Tão logo as máquinas de escrever surgiram nas redondezas, Rodolfo tratou de adquirir a sua. E era o único da sua região que possuía uma máquina fotográfica, o que atraía os vizinhos (depois, os filmes eram revelados em São Bento). Ele tinha um rádio de bateria, pois ainda não havia luz elétrica.

Os filhos nasceram. Seriam quatro: Laurindo, Ermelino, Alcides e Doris. As escolas em Campinas eram fracas e eles vinham estudar em São Bento. Campinas era isolada, mesmo os padres e pastores levavam meses para aparecer. Luteranos aproveitavam a vinda do padre e católicos a do pastor. Conforme cresciam, os filhos ajudavam na lavoura e no comércio. Rodolfo era um pouco mais rígido com os rapazes, mas, no geral, era bondoso. Catharina já era um pouco mais enérgica.

Em certa altura, Rodolfo já tinha um caminhão com o qual seu filho mais velho puxava fretes, sobretudo de erva-mate, vendida para Curitiba. Por algum tempo, eles também venderam gasolina, pois não havia posto naquele interior. Armazenavam em grandes tambores e às vezes vinha gente durante a noite em busca de gasolina.

Os filhos cresceram e se casaram. Como não havia salão de baile, as festas de casamento em Campinas dos Crispim eram feitas em um paiol, onde a erva-mate era armazenada. Cada filho formou, então, a sua própria história. Rodolfo e Catharina ainda iriam se casar no religioso, em uma igreja católica de Piên. No total, ficaram juntos 44 anos, até ele falecer em 1965 – ela morreria nove anos depois.

A única filha mulher de Rodolfo e Catharina se tornaria avó deste cronista, que, 100 anos depois, recorda o casamento e a vida desses seus bisavós.

Tags: antepassadosCampinas dos CrispimcasamentoCentenárioCrônicahistóriaParanáSão Bento do Sul

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