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O homem que vai morrer

Henrique Fendrich por Henrique Fendrich
21 de agosto de 2019
em Henrique Fendrich
A A
O homem que vai morrer, crônica de Henrique Fendrich

Imagem: Reprodução.

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O homem saiu do consultório carregando uns papéis e caminhou até o elevador. Apertou o botão do térreo por instinto, porque não prestava atenção no que fazia. Saiu do prédio, mas, antes de seguir o seu caminho, parou para olhar ao redor. Era quase meio-dia e todos caminhavam com pressa. Ele olhou com admiração para aquela gente que agia como se nada tivesse acontecido e tudo ainda fosse a mesma coisa de quando ele entrou naquele prédio. Deu um suspiro, passou a mão na cabeça e refletiu, tentando se resignar: “Bem, então é isso. Eu vou morrer”.

Era um homem de meia-idade. Na sua cabeça, ainda teria ao menos duas décadas pela frente, mas agora as coisas haviam mudado de figura. Cada caso era um caso, mas ele não queria se iludir: tinha mais alguns meses pela frente e nada mais. Esse prazo tão curto ainda não lhe causava desespero, mas apenas porque estava chocado demais para entender o que tudo aquilo significava na prática. Verdade que ele podia ter procurado ajuda antes, mas a gente nunca pensa que é sério quando os sintomas aparecem. Há sempre a esperança de que eles irão desaparecer por encanto, tão rapidamente quanto surgiram. Mas os dias passam e os sintomas não, até que a pessoa não consegue mais fugir e consulta um médico. Mesmo assim, não se pensa que será alguma coisa tão grave assim. Ora, esse tipo de coisa nunca acontece com a gente, só com os outros. Entretanto, ali estavam os papéis, todos os exames que traziam a sua sentença.

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Deu um suspiro, passou a mão na cabeça e refletiu, tentando se resignar: ‘Bem, então é isso. Eu vou morrer’.

Seria o destino ou uma fatalidade? Nenhuma das duas hipóteses lhe agradava. Sentia apenas que era uma injustiça, pois não há morte mais injusta do que a nossa. Tanta gente ruim nesse mundo… Claro, ele não era nenhum santo, mas era difícil aceitar que tanto crápula só iria morrer velhinho, velhinho, ao passo que ele já estava em contagem regressiva. E o que fizera da sua vida até então? Tentou fazer um balanço, mas não encontrou muita coisa a seu favor. Agora que estava prestes a morrer, era assaltado por um desejo fortíssimo de viver, de fazer o que ainda não havia feito. E por que não havia feito? Nem ele sabia dizer. É que a gente vai vivendo e, antes que se dê conta, já está preso em alguma rede. Só quando é tarde demais é que reconhecemos o tempo perdido.

Pela primeira vez, lamentou não ter herdeiro ou sucessor. Por um momento, passou pela cabeça que talvez ainda desse tempo. Nove meses é o tempo que um bebê leva para nascer. Ele não sabe se ainda estará por aqui a essa altura, mas, bolas, para fazer um filho não é preciso mais do que um instante. A voz da razão, porém, não demorou a alertar que não convinha trazer ao mundo outra criança sem pai.

Bem, nada de viagem nas férias então. Ainda que chegasse até lá, as férias consomem dinheiro, e dinheiro é o que ele precisa para o tratamento. Se é que vale mesmo a pena se tratar. Terá que continuar trabalhando, enquanto puder, não pode abrir mão do salário. A gente passa vida trabalhando como um condenado e depois, quando vai morrer, não tem o suficiente sequer para descansar em paz. Bem que o governo podia criar um tipo de bolsa para pessoas como ele, gente que já está com os dias contados.

Nunca ir à Europa. Nunca ler Guerra e paz. Bem, nunca mais precisar cortar as unhas do pé ou declarar o imposto de renda. Era preciso fazer uma piada ou ele não suportaria continuar a caminhar. Só tinha uma certeza: não iria ser um guerreiro. Não lhe agradava o heroísmo das pessoas que só morrem depois de muito se esforçarem para não morrer. Ele iria fazer o que precisava ser feito e esperar. Se fosse para morrer, ele morreria sem reclamar: não é esse um heroísmo muito maior? E depois, o que viria? O Nada? O Julgamento? “Ora, tanto faz”, resmungou.

E entrou no restaurante para se alimentar.

Tags: crônicadoençaexpectativa de vidamorrermortesentença
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