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Home Crônicas Henrique Fendrich

Ser desempregado

porHenrique Fendrich
1 de fevereiro de 2017
em Henrique Fendrich
A A
Ser desempregado

Foto: Reprodução.

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Ser desempregado é saber fazer uma porção de coisas, mas não ter ninguém para pagar por elas. É ter experiência, graduação, qualificação e não saber por que, mesmo assim, nunca é aprovado nas entrevistas. É, às vezes, sequer ser chamado para uma entrevista. Ou então é não ter experiência alguma e ser descartado logo de cara. Ser desempregado depois de certa idade também é ser descartado logo de cara. Sobretudo, ser desempregado é ver os dias passarem, as contas chegarem e a pressão aumentar.

Ser desempregado é varrer a Internet em busca de alguma vaga, é se inscrever em todos os grupos de emprego do Facebook e, às vezes, até pagar uma assinatura em um site de recolocação profissional. Ser desempregado é gastar muito dinheiro à toa e continuar desempregado. É criar expectativa sempre que aparece uma vaga. É querer ser o primeiro a enviar o currículo, o primeiro a comentar no post do Facebook, o primeiro a chamar no Inbox – ser desempregado é concorrer com outras pessoas que também precisam, e às vezes até mais. É lutar pela própria sobrevivência, pela própria família – cada um por si.

Ser desempregado é até conseguir relaxar um pouco depois de enviar um currículo, com a consciência de que fez a sua parte. Ser desempregado é esperar por uma resposta positiva, e esperar, e esperar, até ter que admitir que, realmente, não virá resposta nenhuma. Ser desempregado é nunca saber por que não foi escolhido. Mas, às vezes, é receber um retorno, uma ligação marcando uma entrevista. É criar mais expectativa ainda. É procurar no Google Maps o local da entrevista, o local do trabalho, e ficar pensando como será ir para lá todos os dias depois de ser aprovado – é, principalmente, cogitar o melhor. É pagar a passagem do próprio bolso para ir fazer a entrevista e depois não ser chamado – já disse, ser desempregado é jogar muito dinheiro fora. É ter que conviver com a sensação de frustração, a sensação do “quase”, ficar se perguntando o que foi que fez de errado – e não saber.

Ser desempregado é concorrer com outras pessoas que também precisam, e às vezes até mais. É lutar pela própria sobrevivência, pela própria família – cada um por si.

É, muitas vezes, precisar desabafar, escrever alguma coisa no Facebook, pedir uma ajuda, se alguém souber de uma vaga, por favor, que avise. É contar com a compreensão dos outros, e mais do que isso, todos torcem por você, todos recomendam o seu serviço – mas ninguém te dá um emprego. Ser desempregado, nos piores casos, é se desesperar, dizer que faz qualquer coisa em troca de comida. É ter que fazer qualquer coisa mesmo, fazer aquilo que o mercado quer que você faça, não aquilo que você sabe fazer. É achar que fez as escolhas erradas na vida.

É ter a impressão de que só se consegue emprego por indicação – é não ter ninguém para lhe indicar. É se apegar à fé, é buscar um milagre, é não poder desanimar. É fazer empréstimos, é deixar de pagar contas. Não conseguir pensar em nada a longo prazo. Começar a vender as coisas da casa. Só comer frango, que é mais barato. É fazer contas, muitas contas, é apostar no vazio, é não ter garantia de nada. Ter medo do futuro. Não tratar as cáries, os problemas de saúde que não são urgentes. É deixar coisas estragadas em casa porque não pode consertar. É torcer para que não aconteça mais nenhum imprevisto. Ser desempregado é já não conseguir deixar de sê-lo…

PS: minha mãe, doméstica, está desempregada há meio ano em Curitiba, e meu pai, administrador, está desempregado há mais de um ano em Taubaté. Eu vivo de minhas pesquisas históricas e genealógicas, que é realmente o que eu gosto de fazer – uma pena que isso não me dê nenhum emprego formal. 

Tags: Crônicadesempregadodesempregoemprego

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