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Home Crônicas Henrique Fendrich

Solteiro sim, sozinho também

porHenrique Fendrich
26 de julho de 2017
em Henrique Fendrich
A A
"Solteiro sim, sozinho também", crônica de Henrique Fendrich.

Imagem: Reprodução.

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Hoje em dia até frigideira tem tampa. A frase, que tem lá a sua graça, procura dar um pouco de esperança, mais cedo ou mais tarde há de aparecer a sua companheira ideal. Talvez no início eu acreditasse que fosse apenas uma questão de tempo. O problema é que ele foi passando, foi passando, sem que nada acontecesse, e hoje eu já não consigo ouvir nenhuma frase de otimismo sem um sorriso de desdém. Você ainda é novo, dizem. E devo ser, mas há pessoas da minha idade que ficaram solteiras por toda a vida. Não se improvisa um solteirão, ele vai dando os seus sinais desde muito cedo. E aos poucos eu vou me acostumando com a ideia de que tudo continuará assim.

Os próprios parentes não são mais tão insistentes, já nem perguntam se arrumei uma namorada. Claro está que não arrumei. E assim eu vou assistindo aos primos, os primos que eram todos mais novos que eu, primos que eu vi nascer, e hoje cresceram, se casaram, formaram uma família, enquanto que eu permaneço no mesmo lugar. E nem se pode dizer que fiquei para tio, pois eu sou filho único. Dois dos meus tios também permaneceram solteiros, quem sabe se não há aí até um componente genético.

Tive, é verdade, os meus romancezinhos, histórias confusas que aconteceram há muito tempo e que terminaram todas da mesma maneira. Nunca houve um caso que perdurasse a ponto de eu chegar para a minha família e dizer “esta é a minha namorada”. Esses casos foram rareando, foram rareando, a ponto de eu mal conseguir me lembrar do que é que se sente quando se está em um deles. E agora já estou solteiro há tanto tempo que carrego comigo uma série de hábitos e manias, regras que uso para viver, e não sei se conseguiria abrir mão delas para entrar em um relacionamento. Aí fica tudo como está…

E nem se pode dizer que fiquei para tio, pois eu sou filho único.

Não sou, por certo, nenhum galã, e também sou pobre e moro longe, mas acho que o que mais pesa mesmo é a minha dificuldade de conversar com as pessoas e a minha visão personalíssima de mundo, que afasta qualquer um. Deve haver orgulho, deve haver uma porção de defeitos para se chegar a esse estágio. Porque eu não sou daqueles que estão satisfeitos com a vida a sós não, sou dos que não conseguem fazer nada diferente para mudar.

Eu também queria ter uma filha, cheguei até a dar um nome para ela, ela se chamaria Talita e, coisa admirável, havia de me amar do jeito que eu sou. E com ela eu gastaria todo esse punhado de afeto que, de outro modo, se acumula inutilmente dentro de mim. O problema de Talita, no entanto, é que ela precisa de uma mãe para vir ao mundo, pois eu também não acho que daria conta de adotar uma criança sozinho. E uma das coisas mais tristes é não ter nunca a possibilidade de, em um dia qualquer, quando menos se espera, ouvir da pessoa que escolheu viver ao seu lado, da pessoa que aceitou enfrentar as dificuldades que nascem do inusitado propósito de se viver com alguém, essa espantosa notícia: “Estou grávida!”.

Para isso ainda acontecer é preciso não menos do que um grande evento cósmico, de origem evidentemente sobrenatural, e tão irresistível que pudesse passar por cima de traumas, dúvidas e opiniões formadas. Afinal, até hoje, as frigideiras daqui de casa não têm tampa.

Tags: Crônicaencalhadosolidãosolteiricesolteiro

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