• Quem somos
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
26 de maio de 2022
  • Login
Sem Resultados
Veja Todos Resultados
Escotilha
  • Cinema & TV
    • Canal Zero
    • Central de Cinema
    • Espanto
    • Olhar em Série
  • Literatura
    • Contracapa
    • Ponto e Vírgula
  • Música
    • Caixa Acústica
    • Prata da Casa
    • Radar
    • Vitrola
  • Teatro
    • Em Cena
    • Intersecção
  • Artes Visuais
    • Mirante
    • Visualidades
  • Crônicas
    • Helena Perdiz
    • Henrique Fendrich
    • Paulo Camargo
    • Yuri Al’Hanati
  • Colunas
    • À Margem
    • Vale um Like
  • Cinema & TV
    • Canal Zero
    • Central de Cinema
    • Espanto
    • Olhar em Série
  • Literatura
    • Contracapa
    • Ponto e Vírgula
  • Música
    • Caixa Acústica
    • Prata da Casa
    • Radar
    • Vitrola
  • Teatro
    • Em Cena
    • Intersecção
  • Artes Visuais
    • Mirante
    • Visualidades
  • Crônicas
    • Helena Perdiz
    • Henrique Fendrich
    • Paulo Camargo
    • Yuri Al’Hanati
  • Colunas
    • À Margem
    • Vale um Like
Escotilha
Sem Resultados
Veja Todos Resultados

Uma crônica para Andréia

Henrique Fendrich por Henrique Fendrich
28 de julho de 2021
em Henrique Fendrich
A A
Uma crônica para Andréia

Imagem: Reprodução.

Compartilhe no TwitterEnvie pelo WhatsAppCompartilhe no Facebook

Andréia é mais uma Silva desse Brasil. Tem pouco mais de 40 anos, é negra e mora em Cidade Ocidental, a uns 50 quilômetros de Brasília. Ela é mais uma daquelas pessoas de Goiás que ajudam a fazer a capital do país (o resto do Brasil pensa que são os políticos). De segunda a sábado, ela cuida de uma idosa. A idosa tem três filhas e nenhuma está muito preocupada com a saúde da mãe. Foi Andréia, e não alguma filha, quem ficou com a idosa quando ela esteve internada no hospital. Foi Andréia, e não alguma filha, quem precisou assinar os documentos autorizando procedimentos na velha senhora. E Andréia pensa agora em sair do emprego. Ganha pouco e as filhas estão a cada dia mais exigentes – agora querem que ela faça um relatório contando tudo o que fez durante o dia.

Dois domingos por mês, Andréia pega o ônibus na Cidade Ocidental e, depois de viajar por duas horas, vem até a quitinete em que me coube morar na Asa Sul. Ela me ajuda com a limpeza e com as roupas. Sou a pessoa de menor salário entre as que dispõem desse tipo de serviço. Toda vez que a vejo, Andréia me traz notícias de guerra, de gente que sofre para continuar vivendo e que às vezes não consegue. Famílias em crise, parentes viciados, gente indo para a cadeia. O Brasil real, com o qual não estou acostumado, já que vivo a fugir do movimento da vida.

Anúncio. Deslize para continuar lendo.

Toda vez que a vejo, Andréia me traz notícias de guerra, de gente que sofre para continuar vivendo e que às vezes não consegue.

Andréia tem sete filhos, de três maridos diferentes. O mais recente desses maridos está na cadeia. Não quis me inteirar exatamente de qual acusação pesa sobre ele, mas Andréia está convicta da sua inocência. Não é o que pensa a mãe de Andréia, que não pode nem ouvir falar no homem. Mas toda quinta-feira Andréia vai visitá-lo no presídio. E o homem só chora. Às vezes tem crises de ciúme, acha que Andréia tem outro aqui fora. Andréia ri: quando iria ter tempo para arrumar outro? Todos os dias está trabalhando, depois ainda tem a casa e os meninos.

O marido se desculpa, diz que está fragilizado. Ele parece um tanto possessivo. Diz que, quando for solto, irá embora da Cidade Ocidental e levará Andréia junto. Ela, contudo, não se sente inclinada a mudar de cidade. De todo modo, isso demorará para acontecer, pois o homem ainda tem 11 anos de detenção pela frente. Na última vez que foi à cadeia, Andréia levou junto um filho de seis anos que teve com o homem. O menino estava com a boca torta – o médico disse que foi um vírus e que iria melhorar depois de 15 sessões de fisioterapia – e talvez, se visse o pai, se sentiria melhor, mas foi só choradeira…

Como se não bastasse, às vezes o homem se mete em confusões lá dentro. Andréia já chegou a receber uma ligação dizendo que era melhor o marido dela não abrir o bico. Ela não sabe o que houve, ela não sabe como pode ajudar o seu homem preso – e então é ela quem chora.

Há ainda o ex-marido – ah, os homens! Na semana passada, sumiu um irmão dele, usuário de drogas. Depois deixaram um bilhete avisando que estava morto e o local do corpo. Mas o ex-marido de Andréia não teve coragem de ir à delegacia e muito menos de reconhecer o corpo. Foi a Andréia. O homem ligou para ela perguntando se não poderia ajudar. E ela foi. Perguntaram à Andréia o que ela era do morto e ela teve que dizer: “Ex-cunhada”. Teve que reconhecer um homem que já não tinha rosto.

Andréia tem um filho de 15 anos que é visto como o mais problemático. Ele até estava frequentando igreja, parecia que ia se ajeitar, mas aí Andréia começou a achar cigarros na mochila dele. O filho mente dizendo que está guardando para alguém. Ultimamente, chega bêbado em casa. Toda semana, há uma célula da igreja na casa deles, mas Andréia receia que esse filho seja um caso perdido.

O filho mais velho tem mais de 20 anos. Embora nunca tenham conversado a respeito, Andréia acha que ele é homossexual. Ele trabalha na Feira dos Importados. Há uma filha de 18 anos que faz Sistemas de Informação, mas queria mesmo é fazer Matemática, e que Andréia já reservou para se casar comigo, porque faz questão de que tenha um sobrenome chique como o meu. Ela pediu para eu anotar o meu sobrenome em um papel e já aprendeu a falar. Só me chama de Fendrich.

Os filhos menores lutam karatê. Um deles pensa em desistir, porque perdeu uma luta que valia a troca de faixas. O filho menor tem três anos e Andréia o chama de “nenê”. Ultimamente, ela não tem tido muito tempo para ficar com o nenê. Ele fica com a avó, a mãe de Andréia – que há uns dois meses enfartou e ainda se recupera.

Andréia precisa de uma geladeira nova, mas acha que não tem dinheiro suficiente para comprar. Lembra-se de uma prima que é funcionária pública. Tem vontade de pedir a geladeira de presente, mas tem vergonha. Ela vai me contando tudo isso enquanto trabalha. Fala alto e bastante e trabalha com energia. Às vezes se emociona, às vezes ri porque toda semana tem um drama para contar. Diz que a história dela daria um livro e pede que seja eu a escrevê-lo.

Mas, ai de mim, eu só sei fazer crônica!

Tags: BrasíliacadeiaCidade OcidentalcrônicacuidadoramulherPrisão
Post Anterior

Como lidar com o fim da segunda temporada de ‘High School Musical: The Musical: The Series’?

Próximo Post

‘Réptil’ foi lançado como vitrine kaiju do potencial do cinema sul-coreano

Posts Relacionados

"Drama da mulher que briga com o ex", crônica de Henrique Fendrich.

Drama da mulher que briga com o ex

24 de novembro de 2021
"A vó do meu vô", crônica de Henrique Fendrich

A vó do meu vô

17 de novembro de 2021

Saint-Exupéry e o mundo deserto

10 de novembro de 2021

Das laranjas e dos crepúsculos

3 de novembro de 2021

Pedalando na chuva

27 de outubro de 2021

Mulher do 3×4

20 de outubro de 2021

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

  • O primeiro episódio de WandaVision nos leva a uma sitcom da década de 1950.

    4 coisas que você precisa saber para entender ‘WandaVision’

    0 shares
    Share 0 Tweet 0
  • 25 anos de ‘Xica da Silva’, uma novela inacreditável

    0 shares
    Share 0 Tweet 0
  • ‘Tudo é rio’, de Carla Madeira, é uma obra sobre o imperdoável

    0 shares
    Share 0 Tweet 0
  • Matt Damon brilha como pai atormentado de ‘Stillwater’

    0 shares
    Share 0 Tweet 0
  • ‘O Nome da Morte’ usa violência crua em história real de matador de aluguel

    0 shares
    Share 0 Tweet 0
Instagram Twitter Facebook YouTube
Escotilha

  • Quem somos
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
  • Artes Visuais
    • Mirante
    • Visualidades
  • Cinema & TV
    • Canal Zero
    • Central de Cinema
    • Espanto
    • Olhar em Série
  • Colunas
    • Cultura Crítica
    • Vale um Like
  • Crônicas
  • Literatura
    • Contracapa
    • Ponto e Vírgula
  • Música
    • Caixa Acústica
    • Prata da Casa
    • Radar
    • Vitrola
  • Teatro
    • Em Cena
    • Intersecção

© 2015-2021 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.

Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Cinema & TV
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Colunas
  • Artes Visuais
  • Crônicas
  • Sobre a Escotilha
  • Contato

© 2015-2021 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.

Welcome Back!

Login to your account below

Forgotten Password?

Retrieve your password

Please enter your username or email address to reset your password.

Log In