Quem é o dono da verdade? Eu não sou, disso estou certo, e nem pretendo. Seria muita pretensão querer possuir algo tão volátil, impreciso. Há, no entanto, quem se julgue no direito de se autoproclamar proprietário de todas as certezas. E ai de quem duvide, ou ouse relativizar esse poder! Eles viram feras e cospem fogo, com os olhos injetados de ira, prontos a fazer justiça com as próprias mãos, ou palavras.
A vida tem me ensinado que tudo muda o tempo todo. Até o que parece ser empedernido, imutável, se transforma. O tempo e o vento tratam de corroer, átomo a átomo, esses monumentos aparentemente fadados à eternidade. Prefiro compreender a impermanência, que pode me conduzir a outros territórios, à certeza fascista, que escraviza. Gosto de me dar conta de não ser mais o que antes julgava ser, de perceber a fluidez das minhas convicções, porque assim me descubro vivo, a pulsar. Os donos da verdade, por sua vez, desmantelam-se, sem perceber, porque inertes, estão quase mortos sem se dar conta disso. E muitos são tão jovens.
Quando a realidade nos atropela, nos lançando ao alto, em câmera lenta, para nos estatelarmos no asfalto duro e rugoso dos fatos, é inevitável sofrer. Sentir na carne, nos ossos e, sobretudo, na alma, a dor da perda das ilusões, dos sonhos. O impacto é visceral, porque nos tira do eixo, nos fazendo duvidar de sermos capazes de voltar a ficar de pé novamente. O levantar-se demanda algum tempo e humildade, para sacudir a poeira, limpar as lágrimas dos olhos e colocar-se em movimento. Dar a volta por cima.
Quando a realidade nos atropela, nos lançando ao alto, em câmera lenta, para nos estatelarmos no asfalto duro e rugoso dos fatos, é inevitável sofrer. Sentir na carne, nos ossos e, sobretudo, na alma, a dor da perda das ilusões, dos sonhos.
Essa desorientação, contudo, é essencial para que novas rotas sejam pensadas, e o passado, visto pelo retrovisor, faça algum sentido, e seja ao menos educativo. Há, talvez, mais aprendizados na queda do que no triunfo, cujo sabor é doce, mas fugidio e pode entorpecer, quando não estamos preparados para suas consequências. Cair nos faz resistir, persistir, para sobreviver e nos reinventarmos.
Não sou dono da verdade, e nem mesmo de meias certezas. Mas creio no movimento como essência da vida. Escolho seguir em frente, em busca do que me faz sentido, e traz a expectativa de descobrir beleza e justiça no caminho. Opto por continuar, apesar dos donos da verdade. Seus gritos são surdos, porque se recusam a escutar, e só eles não se dão conta disso. A queda, que também virá a eles mais cedo ou mais tarde, talvez lhes ensine.