Gosto de dias frios e ensolarados. O vento cortante que atravessa o azul absoluto do céu me inspira, talvez me reconectando com minha essência curitibana. Assim como me encanta a paisagem, por vezes enevoada, que vejo a se transformar quando ando de ônibus, olhos grudados na janela, como quem assiste a um filme pela segunda, terceira ou quarta vez. Movimento dentro e fora de mim. Os trajetos se repetem, mas os redescubro, quando fico mais atento em minha distração.
Gosto de dias frios e ensolarados. Vento cortante que atravessa o azul absoluto do céu me inspira, talvez me reconectando com minha essência curitibana.
Caminhar pelo Centro sem destino certo também me deixa inexplicavelmente alegre. Percorrer ruas velhas conhecidas, onde enxergo versões de mim, com diferentes idades, a perambular sem olhar para o relógio. Insisto em passar por lojas, cafés e bares que já não existem, lembrando-me de como eram, e vibro ao descobrir, por acaso, novos lugares. Se houver escadas, becos, música em recantos não visíveis, melhor ainda. Agrada-me o estranhamento, o não reconhecer.
A cidade existe à minha revelia e muda sem deixar de ser familiar. Entro em sebos, vasculho livros e discos que não pretendo comprar, mas no meio de poeira podem surpreender. A sensação de que algo de bom se esconde é reconfortante. Brinco de esconde-esconde comigo mesmo entre prateleiras e estantes.
Sento às vezes em bancos de praças. Fico a observar quem passa. Gestos, olhares. Ouço o que dizem. Frases entrecortadas e narrativas incompletas que preencho com a imaginação. Existe um mundo de histórias dormentes dentro de mim, que despertam quando ganham cenários e personagens que entram pelos olhos e ouvidos. A cidade se apossa de mim e nela me perco e para me encontrar. Alegria.