Ele sentou diante do quadro e deixou-se transportar para aquela paisagem. Refugiou-se ali, entre as pinceladas, em busca do conforto que as cores lhe ofereciam sem que pedisse. Verdes múltiplos, em diferentes tons, o puxavam para o interior de uma clareira, onde tinha a nítida sensação de ouvir as águas de um córrego a embalar seus pensamentos, que se dissolviam como as nuvens que flutuavam no céu estampado sobre a tela do artista, que sabia ser jovem e interessado nos movimentos da natureza.
Os detalhes da pintura, delicados, sem pressa de lhe atiçar os sentidos, nele despertaram a vontade de permanecer em silêncio, sentado, com os olhos fixos, atentos, mas não vidrados. Percebeu que ali havia uma escritura, um texto que também era imagem e necessitava ser percebido para ser lido em suas entrelinhas. Devagar para poder divagar. Precisava explorar as linhas sutis que compunham a obra que, naquele instante, tornou-se essencial, porque lhe trazia o conforto inexplicável de um lugar onde realmente desejava estar.
Ele sentou diante do quadro e deixou-se transportar para aquela paisagem. Refugiou-se ali, entre as pinceladas, em busca do conforto que as cores lhe ofereciam sem que pedisse.
Os pés que o conduziram àquela sala tinham caminhado com muita pressa, sem permitir que visse muito do caminho. Absorto em pensamentos, talvez ansioso, ele não lembrava muito bem por que havia resolvido parar e repousar os olhos sobre o quadro, que agora lhe oferecia um convite inesperado, desconcertante: “Pare, olhe, sinta.”
E ali ele estava diante de si mesmo, mergulhado naquela paisagem. Olhando-se pela primeira vez em muito tempo. A arte e seus milagres.