Em 2007, eu era editor do Caderno G, finado suplemento de cultura da Gazeta do Povo, quando chegou às minhas mãos o DVD de divulgação para a imprensa de um filme chamado O Hospedeiro, sobre o qual já havia ouvido falar, por ele ter se tornado, no ano anterior, recordista de bilheteria na história do cinema coreano, com 13 milhões de espectadores. Seu diretor, Bong Joon-ho, havia lançado antes seu primeiro longa-metragem, o hoje cult Memórias de um Assassino, de 2003, que nunca tinha visto.
Minha curiosidade, portanto, era enorme e, quando assisti a O Hospedeiro, entendi o porquê de todo o frisson em torno do cineasta, consagrado no último domingo, quando seu mais recente trabalho, Parasita, além de ter-lhe dado o Oscar de melhor diretor, tornou-se o primeiro longa-metragem não falado em inglês a vencer a estatueta de melhor filme em toda a história do prêmio mais importante da indústria do cinema.
Mistura de horror, ficção científica, drama e comédia, O Hospedeiro me deixou profundamente intrigado graças às qualidades inegáveis: ritmo e originalidade, raras nos títulos de ação, sobretudo nos produzidos pelo cinema ocidental contemporâneo. Com um roteiro bem amarrado, efeitos especiais competentes e uma história que intriga o espectador justamente porque a trama faz questão de não assumir um gênero cinematográfico específico, assim como o próprio Parasita -, o filme me hipnotizou. Tive a sensação de estar vendo algo novo, ainda que repleto de referências.
Minha curiosidade, portanto, era enorme e, quando finalmente assisti a O Hospedeiro, entendi o porquê de todo o frisson em torno do cineasta, consagrado no último domingo, quando seu mais recente trabalho, Parasita, além de ter-lhe dado o Oscar de melhor diretor, tornou-se o primeiro longa-metragem não falado em inglês a vencer a estatueta de melhor filme em toda a história do prêmio mais importante da indústria do cinema.
Bong Joon-ho apresenta suas influências já no início da trama de O Hospedeiro. Fã convicto de Steven Spielberg, ele mistura o suspense de Tubarão a uma espécie de estudo sociólogico, por meio da apresentação de uma galeria de personagens marginais, sempre no limite da normalidade, que faz lembrar aqueles presentes em outros clássicos dirigidos ou produzidos pelo diretor norte-americano, como ET - O Extraterrestre e Poltergeist.
Fruto de uma mutação causada por dejetos químicos jogados no Rio Han, em Seul, capital coreana, uma espécie de bagre gigante ataca a população e leva para os esgotos a filha pré-adolescente de Gang-Doo (Kang-ho Song, o pai da família de invasores de Parasita), um apalermado sujeito de 40 anos que ajuda seu pai Hee-bong em uma barraca de lanches à beira do rio.
O incidente acaba afetando toda a família: sua irmã Nam-joo, arqueira olímpica, e Nam-il, um advogado desempregado político que vive bêbado. No melhor estilo spielberguiano, contudo, a esperança de que Hyun-seo ainda esteja viva une os quatro em busca da garota. E eles vão à luta.
Para encontrar a menina, eles têm de driblar as agências governamentais, que, controladas pelos Estados Unidos (responsáveis pela mutação do peixe), impedem a circulação das pessoas por Seul, alegando a possibilidade de um vírus à solta. Nesse momento, Bong Joon-ho consegue mostrar a paranoia crescente em uma região dividida como a Coreia, sem ser panfletário ou repetitivo. Como em todos os seus filmes, o cineasta se utiliza das convenções do cinema de gênero para tecer sofisticadas e pontiagudas alegorias políticas e sociais, bastante críticas ao capitalismo e ao neoliberalismo que ao mesmo tempo que elevou seu país à condição de potência regional, deixa muitos à margem, na periferia.