Se alguém me perguntasse hoje, de supetão, qual a melhor forma de aprender, eu pediria, com toda a sinceridade, algum tempo para pensar. Talvez mais do que muitos estão dispostos a investir em uma reflexão menos rasa sobre esse tema hoje tão fundamental. Respostas prontas, embaladas para viagem, costumam ser impessoais, baseadas em fórmulas e não em indivíduos, dissociadas de um elemento fundamental em qualquer processo educativo: a construção de um vínculo, que se inicia, creio eu, a partir do olhar. Sempre por ele.
Quando coloco os pés em uma sala de aula, secretamente, busco, por meio de observação e escuta atentas, descobrir quem são os alunos. Não é um processo evidente, tampouco fácil, que possa se consumar com rapidez: demanda paciência e, por vezes, longos silêncios, porque cada olhar tem uma velocidade para ganhar forma, identidade. E são tantos!
Mais por instinto, procuro antes sempre descobrir o que já sabem, ou têm a dizer, não importa o assunto. Muitos, talvez condicionados a uma certa passividade construída ao longo de anos de vida escolar, mantêm-se calados, à espera do que o professor tem a dizer. Vale, no entanto, apostar nessas longas, e por vezes até incômodas, esperas que antecedem o instante em que alguém resolve falar, se arriscar, saltar do trampolim e mergulhar. Assim, e creio que só dessa forma, inicia-se um verdadeiro diálogo de aprendizado, quando a distância entre professor e aluno se estreita. E os olhares começam, de alguma forma, ainda que timidamente, a se cruzar, e a se reconhecer no território da humanidade.
Não há por que não nos tornarmos todos – professores e alunos – faróis, independentemente do papel que estejamos a desempenhar. Tudo se ilumina quando o conhecimento torna-se algo que se constrói, como resultado de experiência, de troca, que não se limita somente a conhecimentos teóricos ou práticos, a saberes convencionais. Essa jornada também se alimenta de vivências e percepções que tomam corpo durante o diálogo que se estabelece entre todos que se propõem, e se dispõem, a aprender, incluindo aí quem ali está, teoricamente, para ensinar.
Em um ambiente de aprendizado, seja numa sala de aula convencional ou não, alguns são mais resistentes, outros bem mais disponíveis, menos defensivos. Esses alunos são sempre importantes, senão fundamentais, porque servirão de pontes para chegar mais perto daqueles que fogem, evitam a conexão, e parecem à deriva, navegando fora do alcance do farol que o processo educativo mais pleno intenciona atingir, expandindo sua luz, para depois se multiplicar.
Não há por que não nos tornarmos todos – professores e alunos – faróis, independentemente do papel que estejamos a desempenhar. Tudo se ilumina quando o conhecimento torna-se algo que se constrói, como resultado de experiência, de troca, que não se limita somente a conhecimentos teóricos ou práticos, a saberes convencionais. Essa jornada também se alimenta de vivências e percepções que tomam corpo durante o diálogo que se estabelece entre todos que se propõem, e se dispõem, a aprender, incluindo aí quem ali está, teoricamente, para ensinar.
Gostaria de poder estender os domínios da sala de aula para ambientes que não fossem apenas feitos por paredes, carteiras, lousa e equipamentos tecnológicos. Por que não expandi-los às ruas, aos museus, teatros, cinemas, jardins, parques, florestas? Talvez as palavras, assim como os olhares, talvez aí se multiplicassem por terem mais a dizer, a descrever, a expressar.
Por isso, defendo aqui uma educação fundamentada no olhar, na observação, no contato e na troca, em que o conhecimento seja construído a partir do estar no mundo, e se transforme com o fluir das ideias, para tornar-se algo vivo, orgânico. Transcendente, enfim.