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Home Crônicas Paulo Camargo

Filhos do silêncio

porPaulo Camargo
26 de novembro de 2019
em Paulo Camargo
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Imagem: Silver Screen Collection/Getty Images

Imagem: Silver Screen Collection/Getty Images

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O homem desvia da solidão. Prefere não tocar no assunto, ou finge ser imune a ela. Admiti-la é, de certa forma, revelar-se vulnerável, o que não rima muito com masculinidade. Estar só, encarnar o papel do lobo solitário, não é o problema: há uma certa aura de heroísmo romântico em torno de quem, aparentemente, se basta. Essa imagem, inclusive, reforça um certo ideal de virilidade, que também inclui o silêncio, o não falar sobre o que dói.

Os personagens vividos por Clint Eastwood no cinema, dos muitos cavaleiros solitários do Velho Oeste ao justiceiro Harry da franquia iniciada em 1971 com Perseguição Implacável, sempre tiveram como marca indelével o econômico uso das palavras, a resistência em expressar-se. São ícones de uma masculinidade que se impõe por meio de lacunas, no não dito, por trás de uma máscara de aparente inexpressividade. Encarnam uma solidão profunda, e não assumida, ainda que evidente para quem olhá-los mais de perto. Confunde-se, para alguns, com uma espécie de martírio.

Nós, homens do século 21, somos filhos desse silêncio. Ele nos é imposto como uma armadura herdada deixada de pai para filho há gerações.

Nós, homens do século 21, somos filhos desse silêncio. Ele nos é imposto como uma armadura herdada deixada de pai para filho há gerações. A exposição desnecessária, excessiva, de sentimentos, é um calcanhar de Aquiles para um certo modelo de masculinidade hegemônica que enxerga no revelar de sentimentos uma forma de fragilidade, de efeminização. Se é para sofrer, que seja calado. Ou fisicamente. Na carne, e não na alma.

No cinema, homens que choram, sofrem por amor, ou questões existenciais, parecem ter mais lugar em melodramas ou comédias românticas, destinadas, sobretudo ao público feminino. Macho até se compadece do sofrimento de seus iguais, mas tem de ser com sangue e porrada, que acabam funcionando como um espécie de afrodisíaco homoerótico, porém heteronormativo – tudo bem contemplar, e até admirar, corpos masculinos e musculosos, contanto que haja muita pancadaria, e cobertos de hematomas e ferimentos. A dor física enobrece no território de Rambos e seus derivados, disfarçando outras possíveis pulsões.

Volto, então, à solidão dos homens, que se disfarça de silêncio. E quando se manifesta, por parte de um certo modelo de masculinidade tóxica, muito presente nos discursos oficiais hegemônicos destes dias, o faz por meio de socos e pontapés reais ou simbólicos, físicos e verbais. Pretendem ser demonstrações de virilidade, mas, no lá fundo, abafam gritos de socorro.

Tags: Clint EastwoodCrônicafragilidadehomensmasculinidadevirilidadevulnerabilidade

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