Ao lado da porta de entrada do apartamento onde moro, foi pendurado um quadro, uma obra tridimensional, vinda do município de Bichinho, no interior das Minas Gerais, realizada pela Oficina de Agosto com inspiração em nossa hoje usurpada bandeira nacional. Dentro da esfera azul e ornada com o Cruzeiro do Sul, em vez do lema positivista “Ordem e Progresso”, lê-se em bom português “Lar, doce lar”.
A obra foi colocada da porta para fora com a intenção de dar as boas-vindas aos que abrem a porta do elevador, em um cumprimento de aconchego e hospitalidade. A decisão de pendurá-la um local tão visível, de chegadas e partidas, também guarda outra intenção: lembrar os visitantes, mas também a mim, que verde, amarelo, azul e branco não representam, pelo menos não em minha casa, de opressão ou de patriotismo excludente e fascista. É um símbolo de liberdade
Em dias nos quais o mundo está imerso em uma pandemia, e muitos encontram-se reclusos para sobreviver e salvar vidas, o Brasil anda doente, meio cambaleante em sua busca por um rumo. E não por conta (apenas) da Covid-19. No último domingo, mesmo dia em que o número oficial de infectados pelo novo Coronavírus ultrapassava a marca de 100 mil, Brasília transformou-se no palco de um espetáculo de horrores, transmitido mundo afora.
Ao lado da porta de entrada do apartamento onde moro, foi pendurado um quadro, uma obra tridimensional, vinda do município de Bichinho, no interior das Minas Gerais, realizada pela Oficina de Agosto com inspiração em nossa hoje usurpada bandeira nacional. Dentro da esfera azul e ornada com o Cruzeiro do Sul, em vez do lema positivista ‘Ordem e Progresso’, lê-se em bom português ‘Lar, doce lar’.
Uma nefasta carreata de defensores do fim do isolamento social, em nome de uma economia que coloca a saúde econômica do país acima da vida das pessoas, também defendia pautas antidemocráticas, como a intervenção, senão o fechamento, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF). Isso tudo sob o olhar cúmplice e de aprovação do presidente da República, que sem qualquer pudor disse estar no limite de sua paciência, e prestes a tomar medidas extremas, com o apoio das Forças Armadas.
Símbolos nacionais, como a bandeira do país, o hino e a camisa da Seleção Brasileira de Futebol, foram há algum tempo sequestrados por quem se julga dono da bola, e da nação, ainda que hoje já não constitua mais a maioria. Esse patriotismo pouco ou nada tem a ver com amor, mas, sim com ódio e ressentimento represados pelas minorias, pela pluralidade, pelo pensamento diverso. O combate à corrupção é só um disfarce.
Sem máscaras de proteção contra o vírus, a milícia de militantes que defende o ideário abjeto do atual governo, não esconde mais sua face horrível, que não grita, grunhe. E ataca, punho em riste, a chutes e pontapés, quem os contraria e os ameaça, em seu reino de ignorância orgulhosa e privilegiada. Agride profissionais de saúde, jornalistas e todos que ameacem tirá-los de seu transe, e derrubar seu mito. O país que tanto defendem não é e jamais será o meu.
Fico aqui com meu “Lar, doce lar”, na bandeira repaginada pela arte, que me oferece alguma esperança de dias melhores. Fico em casa, que não é menos meu território e onde sou rei de mim. Boas-vindas!