Sempre tive fascínio por quem fala de menos, me desafiando com o silêncio. Lembro de ouvir uma conversa entre vizinhas, no portão da casa da minha família no bairro Rebouças. Uma delas, de ar compenetrado e cheio de verdade, mas não desprovido de uma certa picardia, olhou para as demais, que a ouviam com atenção: “Amigas, todo dia você tem que olhar no espelho e repetir, em voz alta: ‘Eu sou bonita, inteligente e tenho um mistério’”. Todas, inclusive minha mãe, pareciam concordar, sem fazer objeções.
Eu era apenas um adolescente, mas já desconfiava de fórmulas de felicidade, e o papo me pareceu saído de alguma revista, daquelas que trazem testes para descobrir se você será ou não feliz no amor, se é bom de cama ou terá um futuro de sucesso. Ri em silêncio, mas continuei a ouvir, como se não estivesse ali, prestando atenção. E confesso que fiquei matutando a parte do mistério.
De fato, pessoas que falam demais de si, se despindo verbalmente diante dos outros, sem grande pudor, revelando tudo o que pensam, tendem a se tornar meio óbvias e, por fim, entediantes. Além de causarem certo constrangimento: ninguém quer saber tanto sobre alguém que não se conhece tão bem. Prefiro descobrir sozinho o que eu não consigo ver, ler nas entrelinhas do que dizem, tentar montar o quebra-cabeças aos poucos. O outro, para mim, se torna muito mais interessante quando me desafia, contanto que não se trate de uma estratégia roteirizada. Anda faltando um certo recato nestes tempos de redes sociais nos quais a noção de intimidade está embaralhada.
“De fato, pessoas que falam demais de si, se despindo verbalmente diante dos outros, sem grande pudor, revelando tudo o que pensam, tendem a se tornar meio óbvias e, por fim, entediantes.”
Ninguém tem culpa de ser prolixo, verbal demais. Geralmente, trata-se, mais do que uma característica, um sintoma de ansiedade, de silêncio represado por quem acredita ter muito a dizer sem interlocutores suficientes. Quem nunca se sentiu assim?
O problema é que quem muito fala, explodindo em ideias, opiniões veementes e histórias que julgam ser muito interessantes, tende a se afogar nas próprias palavras. Ainda que, ironicamente, muito que tenham a dizer seja potencialmente interessante. Falta-lhes aquilo que a vizinha da minha mãe, de bobes na cabeça, chamava de “mistério”, em sua sabedoria de calçada.