• Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
Escotilha
Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
Escotilha
Home Crônicas Paulo Camargo

No coração da cidade

porPaulo Camargo
23 de julho de 2019
em Paulo Camargo
A A
Compartilhe no TwitterEnvie pelo WhatsAppCompartilhe no LinkedInCompartilhe no Facebook

Desde fevereiro estou trabalhando no Centro de Curitiba. Esse compromisso diário, obrigatório, tem me reconectado com a cidade onde nasci e passei boa parte da vida, entre idas e vindas de maior ou menor duração. O interessante de estar aqui todos os dias, de segunda a sexta-feira, percorrendo mais ou menos os mesmos trajetos, é a possibilidade de perceber detalhes aparentemente desimportantes, mas capazes de me fazer repensar minha identidade a partir do espaço urbano que ocupo, e por onde transito. Percebo que não apenas estou neste lugar. Ele está em mim, na minha identidade, ainda que sempre de forma mutante, se reconfigurando em cada pequena loja, entrada de edifício ou hotel, bar, lanchonete e marquise de prédio pelos quais passo. E, principalmente, pela diversidade de pessoas que cruzam o meu caminho, de homens engravatados a pessoas em situação de rua, passando por estudantes uniformizados, senhoras bem compostas com suas golas rolês e ciclistas, alguns de capacete, outros não.

A Rua XV de Novembro, principal artéria do Centro de Curitiba, com seu calçadão visionário, feito para pés e não para rodas, é uma espécie de praia sem mar. Ainda que os shoppings, ao longo das últimas três, quatro décadas, tenham lhe roubado as salas de cinema, uma parte do público mais endinheirado, e muitos jovens da classe média, média alta, confessem nunca, ou muito poucas vezes, ter por ali estado, as quadras que separam a praça Osório da Santos Andrade, e seus arredores, sintetizam, democraticamente, muito da complexa essência de uma cidade que sempre foi muito plural. Muitos, afinal, se esquecem de que, no fim do século 19, início do 20, ouviam-se vários idiomas pelas ruas de Curitiba, além do português, o que agora volta a acontecer com uma nova leva de imigrantes e refugiados.

A Rua XV de Novembro, principal artéria do Centro de Curitiba, com seu calçadão visionário, feito para pés e não para rodas, é uma espécie de praia sem mar.

Nunca gostei muito do cair da tarde, do crepúsculo, esse momento entre o dia e a noite no qual a passagem das horas se materializa em forma de luz em transformação, da natural para artificial, denunciando o efêmero, o transitório. Alguma coisa, meio existencial acontece no meu coração. Nos últimos tempos, entretanto, como diria Chico Buarque na canção “Olhos nos Olhos”, “me pego cantando sem mais nem por quê”. Talvez porque, ao sair de mais um dia de trabalho, e deixar que meus pés me conduzam pelo coração de Curitiba, que guarda tantas das minhas histórias, tantos pedaços de mim, mas também de milhões, curitibanos de nascimento ou não, eu me sinta verdadeiramente em casa. Essa sensação de pertencimento afronta e desafia minha melancolia, em vez de alimentá-la, porque, de certa maneira, me dá a sensação de lar, de saber onde estou, sem me limitar, aprisionar. Sinto que sou daqui, e isso não tem preço.

Percebo também, que o Centro de Curitiba passa hoje por uma espécie de processo de redescoberta por novas gerações, que têm preferido a liberdade democrática das calçadas à segurança e ao conforto dos ambientes fechados, “protegidos”, quase sempre visando à manutenção não apenas de patrimônio, mas de uma noção de divisão de classes que, embora não seja de forma alguma falsa, é certamente perversa, nociva.

No coração da cidade, em seu Centro, repleto de sons contrastes, tenho a sensação de que cabem todos. E é ela que me faz voltar todos os dias.

Tags: "Olhos nos Olhos"200 crônicas escolhidascentroChico BuarqueCuritibaDiversidadeidentidadepertencimentoPraça OsórioPraça Santos AndradeRua XV de Novembro

VEJA TAMBÉM

"A falta que Fernanda Young faz", crônica de Paulo Camargo
Paulo Camargo

A falta que Fernanda Young faz

8 de fevereiro de 2022
"Hygge", crônica de Paulo Camargo
Paulo Camargo

Hygge

28 de janeiro de 2022

FIQUE POR DENTRO

Olivie Blake. Imagem: Divulgação.

‘Nós dois sozinhos no éter’ aposta em premissa perigosa para falar de amor

8 de dezembro de 2023
Imagem: Netflix/Divulgação.

‘Wham!’ celebra uma rara amizade entre artistas da música pop

7 de dezembro de 2023
Imagem: Escotilha/Canva.

Ana Hickmann e Naiara Azevedo expõem lado menos visível da violência doméstica

6 de dezembro de 2023
Kauan Alcântara e Maeve Jinkings são filho e mãe no excelente 'Pedágio'. Imagem: Divulgação.

‘Pedágio’ discute cura gay em drama urgente sobre o Brasil de hoje

5 de dezembro de 2023

Instagram Twitter Facebook YouTube TikTok
Escotilha

  • Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
  • Agenda
  • Artes Visuais
  • Colunas
  • Cinema
  • Entrevistas
  • Literatura
  • Crônicas
  • Música
  • Teatro
  • Política
  • Reportagem
  • Televisão

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.

Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Sobre a Escotilha
  • Contato

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.