Olho através da janela, e vejo as folhas nas copas das árvores se movendo ao sopro de um vento gelado, porém quase imperceptível. Um mar sereno e oscilante, em tons variados de verde, que atesta com potente sutileza a presença de vida ao meu redor, brincando com a minha percepção. Penso no que eu vou chamar de Deus do acaso.
Há quem acredite, ou deseje muito crer, na força de um destino que nos manteria em rotas previamente traçadas, como personagens atados aos trilhos de um encadeamento de acontecimentos. Prefiro apostar em uma entidade mais criativa, lúdica, para quem narrativas não lineares, com reviravoltas surpreendentes, fariam da vida algo vivo, orgânico.
Não imagino o acaso como uma entidade temperamental, rabugenta, sujeita a chuvas e tempestades. Mas essas intempéries climáticas, sim, o acompanham, assim como dias iluminados, de céu azul, ensolarados.
Há quem acredite, ou deseje muito crer, na força de um destino que nos manteria em rotas previamente traçadas, como personagens atados aos trilhos de um encadeamento de acontecimentos. Prefiro apostar em uma entidade mais criativa, lúdica, para quem narrativas não lineares, com reviravoltas surpreendentes, fariam da vida algo vivo, orgânico.
Como não suporta rotina, embora dela precise para apresentar-se em toda a sua plenitude, o Deus do acaso se aproveita de pequenos desejos esboçados em convites improvisados, frases soltas que deixam portas abertas. O que não estava previsto, e de repente se põe em movimento, o alegra, porque ele se alimenta dessa pulsação. Plena, intensa, como um ônibus que atravessa a cidade no cair de noite, levando a bordo tantas expectativas, sonhos, vontades. Rumo às estrelas.
Engana-se, contudo, quem acredita que o acaso desdenha do destino.
Na verdade, as constelações do zodíaco, à solta no caos calmo de um universo infinito, não os coloca em oposição. Enquanto um planeja, com régua e compasso, cheio de método e certezas, o outro transforma a linha reta, o rigidamente calculado, em uma linda valsa improvisada. Essa melodia encantadora tem o poder de levar todos que a ouvem para a praça, onde começam a dançar, entre beijos e suspiros, com os olhos voltados para o céu estrelado (como a tela de Van Gogh que ilustra esta crônica), que nos aponta caminhos possíveis, nunca incontornáveis, e também nos permite sonhar com o inesperado. Até um novo dia amanhecer.
O Deus do acaso, afinal, adora bailar. É ele que sopra as folhas nas árvores que vejo através da janela.