O céu nublado, tenso, é uma espécie de metáfora do que é ser curitibano. Essa condição climática transitória, que nos coloca nas pontas dos pés, incertos se devemos tirar um casaco do armário, ou carregar um guarda-chuva, ainda que não esteja chovendo, de certa forma nos define.
Há um tanto de transtorno na identidade de quem nasceu, ou cresceu sob a sombra de araucárias, hoje mais raras, mas onipresentes em nosso imaginário.
O cumprimento no elevador às vezes vem sincero, acompanhado de um sorriso desarmado, quase afetuoso. Mas o silêncio também nos conforta, assim como fitar os próprios sapatos e o medo do cruzar de olhares. Talvez seja uma falta de traquejo, o que um dia ouvi ser descrito como “timidez eslava”.
Podemos ser solares, e nos refestelar, falando aos borbotões, nos entrelaçando sensualmente com o mundo. Só que o nevoeiro está sempre lá à espreita, recolhido em sua ausência, porém latente, e a postos, como um ator que aguarda a deixa para entrar em cena. E seu papel é importante, fundamental à trama. Precisamos dele ou deixamos de ser quem somos.
O cumprimento no elevador às vezes vem sincero, acompanhado de um sorriso desarmado, quase afetuoso. Mas o silêncio também nos conforta, assim como fitar os próprios sapatos e o medo do cruzar de olhares.
O friozinho, assim, tanto nos pertence quanto nos possui. Não há nada tão reconfortante como um dia fechado, sisudo, depois de uma temporada de sol a pino. É uma espécie de ressaca bem-vinda, que nos permite recarregar as baterias. Quase um retorno à casa materna
Curitiba é, sim, uma mãe que nos cobre quando já estamos adormecidos, acomoda a coberta sob nossos pés gelados e nos beija a testa. Ainda que nem sempre esteja disposta a velar nosso sono. Tem mais a fazer, acredita que também precisamos estar sozinhos para crescer.
Há inegável beleza nessa contenção austera, no calculado descaso com mesuras, normas impostas de sociabilidade, em nome de uma sinceridade discreta, quando a cidade simplesmente nega a cordialidade como obrigação. E a guarda para ocasiões especiais.
Curitiba não é para iniciantes, e seu charme exige tempo para ser descodificado. É uma porta entreaberta, um tapa nas costas, um abraço ao mesmo tempo contido e intenso.