• Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
Escotilha
Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
Escotilha
Home Crônicas Paulo Camargo

O feijão e o sonho

porPaulo Camargo
31 de agosto de 2021
em Paulo Camargo
A A
"O feijão e o sonho", crônica de Paulo Camargo.

Fernanda Montenegro e Gianfrancesco Guarnieri, em cena de "Eles Não Usam Black-tie", de Leon Hirszman. Imagem: Divulgação.

Envie pelo WhatsAppCompartilhe no LinkedInCompartilhe no FacebookCompartilhe no Twitter

Uma das cenas mais significativas, e emocionantes, na história do cinema brasileiro está no filme Eles Não Usam Black-tie, adaptação do texto teatral homônimo de Gianfrancesco Guarnieri, realizada pelo diretor fluminense Leon Hirszman há 40 anos.

Romana, personagem de Fernanda Montenegro, e o marido, Otávio, interpretado pelo próprio Guarnieri, sofrem o luto da perda de um grande amigo e da expulsão de casa do filho, Tião (Carlos Alberto Riccelli), por discordarem da decisão do rapaz, operário como o pai, de furar uma greve.

O momento, de uma tristeza profunda, impõe ao casal um silêncio atordoante, quebrado apenas pelo barulho do feijão que ela escolhe e joga numa bacia de alumínio. A vida, afinal, deve seguir em frente, a despeito da dor de perceber a família fraturada, de constatar que o mundo em que antes viviam talvez nunca mais volte a ser o mesmo.

Além do gigantesco trabalho dos dois atores, do quanto conseguem expressar sem uma palavra sequer, há nessa cena do longa-metragem de Hirszman, vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza, uma síntese do que o Brasil atravessava à época, derradeiros anos da ditadura militar: o anseio pela redemocratização, que desembocaria em 1983 no movimento Diretas Já; e, também, as greves dos metalúgicos no ABC Paulista, iniciadas em 1978, e que foram incorporadas como pano de fundo atualizado do filme. A ação original da peça se passava no fim dos anos 1950.

Quarenta anos após o lançamento da versão cinematográfica de Eles Não Usam Black-tie, rever a “cena do feijão” que o arremata tem um sabor agridoce, melancólico. Desde o fim do regime militar, nunca a democracia brasileira esteve em risco tão evidente quanto agora.

Quarenta anos após o lançamento da versão cinematográfica de Eles Não Usam Black-tie, rever a “cena do feijão” que o arremata tem um sabor agridoce, melancólico. Desde o fim do regime militar, nunca a democracia brasileira esteve em risco tão evidente quanto agora, quando uma parte significativa e desinformada da população, ainda que não seja a maioria, parece romantizar a ditadura, o autoritarismo, a arbitrariedade.

No filme um símbolo de resiliência, o feijão retornou de forma inusitada ao noticiário nos últimos dias. Indagado sobre a alta do preço do cereal, alimento essencial na mesa dos brasileiros, o presidente da República Jair Messias Bolsonaro disse que deveríamos nos preocupar em comprar fuzis, não feijão. Mais uma bravata ou uma ameaça disfarçada? Difícil responder a esta altura.

Se o país está dividido, fraturado, para mim não é difícil escolher de que lado estar. Sento-me à mesa com Romana e Otávio. Opto pelo feijão, pela resistência, pela arte.

Tags: Carlos Alberto RiccelliCinema NacionalCrônicaDiretas JáDitadura MilitarEles não usam black-tieFernanda MontenegroFestival de VenezafilmeGianfrancesco GuarnieriGreves do ABCLeon HirszmanO feijão e o sonhopeça teatralredemocratização

VEJA TAMBÉM

"A falta que Fernanda Young faz", crônica de Paulo Camargo
Paulo Camargo

A falta que Fernanda Young faz

8 de fevereiro de 2022
"Hygge", crônica de Paulo Camargo
Paulo Camargo

Hygge

28 de janeiro de 2022
Please login to join discussion

FIQUE POR DENTRO

A artista visual Mariana Valente. Imagem: Reprodução.

Mariana Valente: “Clarice Lispector escrevia como quem cria um rasgo na linguagem”

16 de maio de 2025
Stephen Sanchez traz seu som nostálgico ao C6 Fest. Imagem: Divulgação.

C6 Fest – Desvendando o lineup: Stephen Sanchez

15 de maio de 2025
Claudio Cataño dá vida ao Coronel Aureliano Buendía na adaptação de 'Cem Anos de Solidão'. Imagem: Netflix / Divulgação.

‘Cem Anos de Solidão’ transforma o tempo em linguagem

15 de maio de 2025
Aos 24 anos, Cat Burns vem ao Brasil pela primeira vez. Imagem: Divulgação.

C6 Fest – Desvendando o lineup: Cat Burns

14 de maio de 2025
Instagram Twitter Facebook YouTube TikTok
Escotilha

  • Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
  • Agenda
  • Artes Visuais
  • Colunas
  • Cinema
  • Entrevistas
  • Literatura
  • Crônicas
  • Música
  • Teatro
  • Política
  • Reportagem
  • Televisão

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.

Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Sobre a Escotilha
  • Contato

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.