“Uma casa não é um lar”, diz uma das mais belas canções da dupla de compositores norte-americanos Burt Bacharach e Hal David. Tema do longa-metragem Uma Certa Casa Suspeita, lançado em 1964, a música, que fez certo sucesso na voz de Dionne Warwick, embala a agridoce história verídica de Polly Adler, imigrante que se torna uma poderosa cafetina nos loucos anos 1920, tornando-se figura influente, ao transitar entre políticos, artistas, escritores e empresários da época.
Filme mediano de Russell Rouse, que rendeu uma solitária indicação ao Oscar de melhor figurino, assinado pela genial Edith Head, o drama acabou desaparecendo, ao contrário de sua canção-tema, regravada inúmeras vezes, por vozes geniais como as de Stevie Wonder, Barbra Streisand, Aretha Franklin e Dusty Springfield, além de estar em toda e qualquer coletânea de sucessos de seu maestro criador, Bacharach.
Para além de portas, janelas, paredes e cômodos, uma casa, seja ela um sobrado ou um apartamento, uma mansão ou um quarto alugado, é um espaço tanto para experiências quanto para sonhos. Nela deixamos escritos capítulos de nossa história, que serão ou não capazes de transformá-la em lar. Cabe ao tempo dar essa resposta.
Como foi lançada apenas um ano antes de meu nascimento, “A House Is Not a Home” integra meu imaginário musical e sempre me intrigou muito porque, de alguma maneira, fala de algo precioso: o apego ao lugar onde você escolhe para viver. Para além de portas, janelas, paredes e cômodos, uma casa, seja ela um sobrado ou um apartamento, uma mansão ou um quarto alugado, é um espaço tanto para experiências quanto para sonhos. Nela deixamos escritos capítulos de nossa história, que serão ou não capazes de transformá-la em lar. Cabe ao tempo dar essa resposta.
Quando se deixa uma casa, para em outra iniciar uma nova jornada, há sempre um misto de pesar e esperança. A que fica para trás, ironicamente passa a residir dentro de nós, como uma instância preciosa que guarda em suas gavetas pedaços do que um dia fomos, tão necessários para o que o ainda vamos ser. E dessa expectativa, do que vamos escrever, construir e viver, se alimenta a vontade de transformar a nova casa em lar, e dele fazer o lugar onde agora mora o nosso coração. E o futuro.