Acredito no momento. No fragmento de tempo, às vezes mínimo, ínfimo, durante o qual muito acontece. Pode ser uma troca de olhares, uma frase lida em um livro, a palavra certa dita em um instante não planejado, que se abre como uma flor, sem hora marcada.
Tenho pensado, às vezes muito, outras um pouco menos, sobre a busca pela felicidade. Tenho absoluta convicção de que todos temos esse direito, ainda que saiba que ela não existe enquanto estado permanente. Não é uma recompensa por serviços prestados, um prêmio com o qual somos agraciados. É um estado de alma, e de corpo, talvez até uma forma de olhar para vida. E transformar-se.
Acredito no momento. No fragmento de tempo, às vezes mínimo, ínfimo, durante o qual muito acontece. Pode ser uma troca de olhares, uma frase lida em um livro, a palavra certa dita em um instante não planejado, que se abre como uma flor, sem hora marcada.
A felicidade mais intensa reside no momento, aquele do qual falei na abertura deste texto. É um acontecimento, que ajudamos, sim, a lapidar, a esculpir, mas que não depende unicamente de atos, ou atitudes, sobre os quais tenhamos controle. Voluntariosa, ela emerge, desperta ao mais sutil dos ruídos, a movimentos quase imperceptíveis, chega sem avisar. Por isso, é tão preciosa, porque guarda em si o germe da impermanência. do inesperado.
À medida em que o tempo avança, e, talvez, ficamos maduros, experientes, o que parecemos reter da vida são, mais do que a falsa linearidade do encadeamento dos fatos, os momentos nos quais quebramos essa lógica. Um encontro, ou uma despedida, a descoberta de uma canção, o arrebatamento causado pela cena em um filme, o gesto de alguém que se ilumina diante de nossos olhos. Inesperadamente. O pouco pode ser tanto, imenso, nessa lógica ilógica de que somos a soma de fragmentos à qual tentamos dar algum sentido por meio do discurso, mas também não deixa de ser aleatória.
Como mutante que me assumo ser, vivo à espera do momento, sabendo que, é claro, não serei avisado de sua chegada. Ainda bem! Essa precariedade, de certa forma, ao mesmo tempo em que nos torna vulneráveis, é encantadora, porque nos aproxima do mundo natural, do qual a racionalidade, essa austera senhora, tenta a todo custo nos afastar. Por isso, acredito no momento.