Ando preferindo, não exatamente na literatura mas na própria vida, a poesia à prosa, ainda que nunca tenha ambicionado fazer dos versos um meio constante de expressão. Mais do que uma opção estética, creio que se trate, hoje, de uma escolha quase involuntária de alma, existencial mesmo.
Quando meus dedos buscam as teclas do computador, o que vem à tona se distancia um tanto da narrativa convencional. A vida real anda contando tantas histórias, algumas desconcertantes, que prefiro observá-las, ouvi-las. Atento, respeitoso, ou apenas perplexo.
Desse exercício, sempre fascinante e, por vezes, não vou negar, perturbador, porém jamais entediante, percebo brotar em mim, mais do que tudo, imagens: olhos que fitam o vazio através das janelas dos ônibus; beijos apaixonados que desafiam a rotina dos dias, e brotam, como girassóis, em lugares públicos; vozes que ouço sem rostos, mas parecem tanto dizer na ânsia de se fazerem ouvir. Buscas infinitas que nos colocam em movimento.
Quando meus dedos buscam as teclas do computador, o que vem à tona se distancia um tanto da narrativa convencional. A vida real anda contando tantas histórias, algumas desconcertantes, que prefiro observá-las, ouvi-las. Atento, respeitoso, ou apenas perplexo.
Sobram desse exercício diário, portanto, mais fragmentos de narrativas do que tramas completas, com começo, meio e fim. A velocidade do dia a dia, e a transitoriedade, nos levam a valorizar as sensações, que aos poucos se condensam em sentimentos. Profundos. E nisso não vejo um problema: essas polaroides cotidianas me inspiram muito, porque, talvez, eu mesmo ande vivendo de maneira recortada, mais focado na preciosidade e intensidade dos momentos, das experiências, do que na previsibilidade do que já sei, compreendo ou vivi.
Seria uma questão de método, ou a constatação de que, ultrapassando o tempo, o que nos resta mesmo é agora? Não sei, honestamente.
Daí vem essa opção pelo poético, que me coloca em sintonia com o universo, porque não me cobra a coerência da linearidade cronológica e me faz pensar, sentindo. Viver como em um poema que me aproxima de mim.