Quando me vejo diante do mar aberto, sinto percorrer meu corpo sensações difíceis de serem descritas. A primeira, mais recorrente, é de alumbramento, uma dessas palavras mágicas da língua portuguesa que dão conta de dizer muito com tão poucas letras. Qualifica algo que, ao mesmo tempo, parece ilusório, mas revela tanta verdade; também pode enganar, porém inspira, por trazer em si o espirito fundamental da criação. É, portanto, o que nos move, atestando o pulsar em nossas veias. O mar é, portanto, um pouco como amar.
Quando meus olhos se deparam com a desafiadora imagem do oceano, implacável e sublime, é meio como se suas águas não existissem, e tivessem sido inventadas naquele instante, em uma espécie de sonho, no qual as formas são projetadas pelo inconsciente. As ondas, cuja mágica inconsistência líquida parece tão absurdamente sólida em alguns momentos diante dos olhos limitados dos que a miram, brincam com os sentidos e com a percepção. Em um momento estão lá, para depois sumirem, e então ressurgirem no instante seguinte. Um experiência estética, enfim.
Quando meus olhos se deparam com a desafiadora imagem do oceano, implacável e sublime, é meio como se suas águas não existissem, e tivessem sido inventadas naquele instante, em uma espécie de sonho, no qual as formas são projetadas pelo inconsciente.
O mar, ao mesmo tempo em que acaricia o horizonte, parecendo inabalável à distância, é capaz de rugir, de lamber com ferocidade leonina o que se coloca em seu caminho. Tem poder de morder, esculpindo, ou até demolindo, e é prova cabal de que, sim, vivemos em um mundo natural, maior e superior do que nossas realidades inventadas.
Na última semana, tive a oportunidade de estar, todos os dias, a poucos metros do Atlântico, na cidade portuguesa do Porto. Ouvia, ao despertar todas as manhãs, o guincho de gaivotas, cujos rasantes sobre as águas do oceano conseguia assistir da janela do meu quarto de hotel.
À distância, também divisava, ao me aproximar da beira-mar, um lindo farol na ponta de um píer. Em torno dele, homens, muitos deles de idade mais avançada, que passavam horas a pescar já nas primeiras horas do dia, em comunhão com aquela paisagem tão plena de significado.