Tenho muito orgulho de não ser pai de ninguém. Assim como algumas pessoas gostam de dizer que sempre quiseram ter filhos e que se orgulham muito da sua prole, eu acho que uma das melhores coisas que eu fiz foi não ser pai de ninguém. Nunca quis ter filhos e cheguei até aqui sem que nenhum lapso tenha se colocado entre mim e o meu sonho de não ter filhos.
Não foi por falta de pressão contrária que escolhi não ser pai. A qualquer namoro mais longo logo perguntavam, e minha mãe queria saber dos netos, pouco se importando com a logística da coisa ou com a minha vocação para tal trabalho de tempo integral. Muita gente não nasceu para ser pai e eu sou uma delas, mas pouco se faz para respeitar a não-paternidade. Toda a gente, só querem saber que coloquem filhos no mundo.
A paternidade não me faria exatamente uma pessoa infeliz, mas me faria uma pessoa frustrada. Tenho pouco ou nada a realizar na criação de um neném, e menos ainda na construção de um adolescente. Parece um bom arranjo, não ter filhos. Os que gostam de mim podem ficar felizes pela minha realização de não ser pai; os que não gostam podem ficar tranquilos em saber que nenhum dos meus valores está sendo perpetuado atavicamente.
Muita gente não nasceu para ser pai e eu sou uma delas, mas pouco se faz para respeitar a não-paternidade. Toda a gente, só querem saber que coloquem filhos no mundo.
Há todo um gênero de artigos na internet sobre pessoas que se arrependeram da paternidade ou da maternidade. Dizem que amam seus filhos, mas odeiam serem pais ou mães. Essas pessoas são consideradas verdadeiros monstros pelos homens de bem, e poderiam não sofrer chacota de nenhum tipo caso fossem advertidas que não ter filhos não é nenhum crime. Porém, nada de muito diferente se diz a respeito das pessoas que são capazes de se orgulhar da não-paternidade, como se fosse uma afronta ser feliz por não perpetuar a espécie. A felicidade não é plural? Devemos todos ter filhos, invariavelmente, então?
Quanto a mim, estou bem. Feliz de deixar as facas ao alcance da mão pela casa, feliz de ter a minha vida, o meu dinheiro, minhas coisas e não ter horário para botar os filhos na cama, o desespero por ficar preso no trabalho e não ter quem pegue as crianças na escola, toda essa coisa lamentável. Uma homenagem ao filho deveria vir acompanhada agora de uma foto da prole, mas como aqui o que ocorre é o contrário, um triunfo do vazio, o brinde à tão desejada ausência, não há quem ou o quê homenagear. Melhor assim.
“Você vai se arrepender desse texto se um dia tiver filhos. A internet é um arquivo eterno, ele vai ler isso”, um engraçadinho comentou. A isso, só posso responder, caso um dia a natureza prove sua contraditoriedade: papai te ama, viu filhão?