A Cândido de Abreu é uma avenida em miniatura. Suas múltiplas faixas e trânsito intenso explicitam o desejo de metrópole da capital, mas sua extensão – menos de novecentos metros até a rotunda que a reduz a uma única faixa – não deixa a ilusão de que o projeto de desenvolvimento de Curitiba é a própria vitória da vontade sobre o real. Muitos pontos de ônibus, estacionamentos e galerias comerciais ganham o objetivo oposto ao de Brasília. É como se o urbanismo ufanista dissesse “venham todos fazer lobby aqui”. A capital do Paraná quer a sua população junto de suas instâncias de poder – daí, talvez, o nome do bairro que abriga sua mais larga avenida: Centro Cívico.
Fóruns, cartórios, tribunais, os prédios do executivo municipal e estadual. A Cândido de Abreu quer que o coração da vida curitibana bata em suas margens. Apenas uma frondosa catedral a separaria de uma versão paranaense e diminuta da Avenida Nievski, de São Petersburgo. Bom, a Cândido tem um shopping, o Mueller, um templo para nossas devoções modernas, mas afora o desfile das escolas de samba, nada lhe garante o título de epicentro da capital – as escolas de samba, inclusive, mudaram o carnaval para a Av. Marechal Deodoro, no Centro, deixando para a sua versão cívica a sisudez que o ambiente sugere.
Fóruns, cartórios, tribunais, os prédios do executivo municipal e estadual. A Cândido de Abreu quer que o coração da vida curitibana bata em suas margens.
Ainda assim, poucos são os prédios realmente altos da Cândido de Abreu. Sua largura diante da paisagem plana não tem efeitos de claustro a céu aberto, como uma rua calçada do Centro de São Paulo qualquer. O que se tem é o vento difuso do descampado, o sol que tudo alcança e o chiaroscuro do arrebol que acha uma fresta entre as nuvens escuras. Ao final da avenida, a praça Nossa Senhora de Salete, que recebe festivais de música, ganha ares de bosque ocupado, como se ao final do concreto, restasse o regresso. Parece que um certo conforto habitacional é previsto na urbanização da Cândido de Abreu, para carros e pessoas. Que as coisas não sejam tão harmônicas na realidade quanto se faz sugerir, parece ser mais uma questão de desordem natural do que de falha de projeto.
Toda a grandiosidade do projeto da Cândido de Abreu parece, entretanto, perder parte de seu sentido em seu comprimento diminuto. O que é, afinal, menos de um quilômetro de avenida bem planejada em uma cidade com mais de um milhão e meio de pessoas? Tudo aquilo a que o projeto se propõe parece se esfumaçar em perfumaria diante da demanda oceânica por mobilidade e planejamento da capital. A vontade de ser metrópole colide de maneira frontal com a personalidade ambígua do paranaense, ansioso tanto pela tradição quanto pela modernidade.
Resta a amostragem, resta a vontade. Quisera ser outra coisa, mas a Cândido de Abreu é do tamanho de Curitiba.