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Home Crônicas Yuri Al'Hanati

A lição de Tommy

porYuri Al'Hanati
5 de novembro de 2018
em Yuri Al'Hanati
A A
A lição de Tommy

Imagem: Michael H./Reprodução.

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Há uma cena das mais secundárias em Os Bons Companheiros que insiste em voltar à minha cabeça regularmente, e que serve ao nível de nossos debates recentes. O gângster Tommy, interpretado por Joe Pesci, logo antes de ser executado, sai para uma reunião e se despede da mulher e dos filhos em casa numa atmosfera de propaganda de margarina, o sonho americano da família na mesa de café da manhã em uma grande cozinha. Numa demonstração simbólica de homem de sucesso, pergunta ao filho, como que para testá-lo, por que não se deve comer muita manteiga, ao que a criança responde, numa sequência de palavras que parece não entender, mas que repete mesmo assim porque sabe que deixa o pai feliz: “porque entope o coração”. Pesci abre então um de seus largos sorrisos de mafioso e diz “esse menino é tão esperto, puxou o pai”, e sai de casa satisfeitíssimo pelo êxito na erudição dos filhos.

O filósofo Karl Kraus escreveu certa vez que mesmo anões produzem sombras gigantes quando o sol da cultura está baixo. O pseudointelectual não é o que sabe na ponta da língua que comer manteiga faz mal para o coração, mas o que tenta argumentar com… argumentos.

O que está presente ali não é a inteligência do menino, quando muito sua sensibilidade de guardar frases que agradam ao pai. É a reprodutibilidade de um conhecimento de almanaque que transforma o dia de Tommy. Na cabeça do personagem, aquilo é ser inteligente, é ter criado bem os filhos, superar sua própria criação deficitária com uma advertência sobre a correlação entre o consumo de gordura e problemas cardiovasculares. Ali está tudo o que é possível passar aos filhos quando se é um bom pai e um mau cidadão. É cultura para o coração do tosco, mas também é consolo de um legado inexistente. A percepção da inteligência do filho de Tommy é puro reflexo do conceito de inteligência do próprio Tommy.

O filósofo Karl Kraus escreveu certa vez que mesmo anões produzem sombras gigantes quando o sol da cultura está baixo. O pseudointelectual não é o que sabe na ponta da língua que comer manteiga faz mal para o coração, mas o que tenta argumentar com… argumentos. De maneira que a flexibilização de certos conceitos será uma consequência direta do baixo sarrafo que estabelecemos como diálogo político, incluindo aqui o conceito de inteligência e erudição. Se nossa intelectualidade é validada por nossos pares, e se há uma maioria que assim entende, talvez estejamos melhor apenas repetindo as frases que deixam os outros felizes.

Tags: CoraçãoCrônicadiálogo políticoerudiçãointeligênciajoe pescikarl krausmanteigaos bons companheirossarrafotommy

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