Pensar em literatura brasileira sem passar pela obra de Antonio Candido é impossível. O autor foi um dos primeiros a compreender a importância da relação entre literatura e sociedade no Brasil. Agora, Candido, falecido em maio de 2017, terá sua obra relançada pela editoria Todavia a partir deste mês.
A coleção anunciada pela editora conta com Formação da literatura brasileira, Os parceiros do Rio Bonito, Literatura e sociedade, O discurso e a cidade e Iniciação à literatura brasileira, todos previstos para este ano. Em 2024, a Todavia programou duas levas de lançamentos, dividindo os seguintes títulos: Vários escritos, Um funcionário da monarquia, Teresina etc., A educação pela noite, Brigada ligeira, O método crítico de Silvio Romero, Ficção e confissão, O observador literário, Tese e antítese, Na sala de aula: cadernos de análise literária, Recortes e O albatroz e o chinês.
O Brasil (e a literatura) de Antonio Candido
Candido é um dos maiores críticos literários que o Brasil já teve, e seu legado é imenso. A republicação de seus livros permite que uma nova geração de leitores tenha acesso à obra desse grande pensador, mantendo acesa a chama também para pesquisadores, uma vez que suas publicações seguem sendo objeto de estudo e interesse em diversos campos.
Antonio Candido deixou uma extensa e fundamental coleção de obras, imprescindíveis à compreensão da literatura brasileira e o desenvolvimento de uma teoria crítica que levasse em consideração a diversidade cultural e social do Brasil.
Em Formação da Literatura Brasileira, obra seminal de Candido que se tornou clássico dos estudos literários no Brasil, o autor apontou como fatores sociais, históricos e culturais influenciaram a produção literária no país. Ali, Candido propôs um método em que explicava como era preciso entender a literatura de forma dinâmica, “pensando no autor, na obra e na recepção de seu contexto”, como explicou a historiadora Lilia Schwarcz.
“Antonio Candido é também um intérprete, e esse é o seu grande legado”, contou em entrevista à revista da Unisinos, à época da morte do pensador. “Ele é o interprete do país, seja nos seus textos de crítica literária, seja em [obras como] Os parceiros do Rio Bonito, etnografia sobre esses e outros brasis”, afirmou.
Debatedor do país
Pensar em literatura brasileira sem passar pela obra de Antonio Candido é impossível.
Em Literatura e Sociedade, o crítico discutiu como a literatura é influenciada pelo contexto social em que são produzidas e de que maneira ela seria capaz de influenciar e transformar esse mesmo contexto. “Antonio Candido é um autor fundamental, pois nos ensina a ficar nessa corda tensa e bamba entre a obra e seu momento e nos dois ao mesmo tempo”, citou a historiadora.
Especialmente no campo da Teoria Literária, Candido é uma fonte rica de inspiração e reflexão crítica. Sua busca por compreender a relação entre forma e conteúdo, bem como os aspectos estilísticos e estruturais das obras literárias, são um marco no campo.
O mesmo pode ser dito da já citada contribuição na compreensão das dinâmicas complexas que permeiam a produção literária, incluindo as relações entre diferentes “literaturas nacionais” e a forma como se influenciariam mutuamente. “A literatura sempre foi para ele uma forma privilegiada de falar sobre o Brasil, entendê-lo e se preocupar com ele”, pontuou Lilia Schwarcz.
Sua obra continua atualíssima, sobremaneira pela capacidade de traduzir o acadêmico, o erudito, para uma linguagem simples, que se conecta com um olhar astuto sobre o Brasil, como fez em Um funcionário da monarquia, que permite, ainda, entendermos como funcionam nossas elites, de que forma são construídas, e como se estrutura o funcionalismo público no país até hoje.
Por tantas contribuições, é de se comemorar sua republicação. Em um tempo de debates ausentes, sua obra segue (e seguirá) sendo contribuinte para pensar o Brasil de ontem, hoje e amanhã.
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