Conversa de jardim (Moinhos, 2018) é a edição de uma série de bate-papos entre os escritores Maria Valéria Rezende e Roberto Menezes, entre agosto de 2014 e junho de 2017, em João Pessoa, na Paraíba, onde ambos moram. A consagrada escritora conversa informalmente com o amigo escritor e físico sobre o processo de criação de seus livros, entre eles, Vasto Mundo, Ouro dentro da cabeça, Quarenta dias e Outros Cantos.
Conversar com Maria Valéria Rezende é uma delícia, e só sabe quem já a encontrou. A escritora vive contando histórias. Entre mandacurus quase florescidos, três ou quatro pés de jasmins, coqueiro, pitangueira, rosa e muito capim crescido, Valéria fala sobre como os os livros são concebidos: “os livros saem de um imenso depósito que tem na cabeça, um depósito de puzzles de um quebra-cabeça bem peculiar, estas peças todas misturadas que foram no entrando pelos cinco sentidos através da vida” (página 22).
As experiências da vida, como leitora, e depois como educadora que conheceu vários lugares no mundo todo, tornaram-na uma hábil contadora de histórias. Valéria critica os autores voltados ao seu umbigo e diz que é essencial saber para que público escrever. Revela que Vasto mundo é uma coletânea de contos que se tornou um romance, tendo como protagonista o povo de Farinhada, o lugarejo em que se situa a ação.
Seu interlocutor, Roberto Menezes, é professor de Física da Universidade Federal da Paraíba. E um grande leitor, que começou sua vida leitora de forma precária, já que em sua casa não havia livros, filho de vendedor ambulante. Ele recolhia os rejeitados pela biblioteca, e que faltavam páginas. “Na infância, a minha relação com os livros era de caça ao tesouro, livro pra mim era coisa rara, acredite se quiser, quando eu tinha uns oito, nove anos, eu torcia pra chegar aos sábados, nos sábados vinham as testemunhas de Jeová, nem precisava bater, eu já tava lá esperando, a nova edição da revista A Sentinela”.
O ritmo da conversa entre a veterana e o novato é fluido. Os três anos de conversas informais foram bem editados e ritmados.
O ritmo da conversa entre a veterana e o novato é fluido. Os três anos de conversas informais foram bem editados e ritmados. Ritmo é o que Valéria considera fundamental na narrativa, já que a vida é pulsante: “tem ritmo em tudo: na batida do coração, no barulho da máquina de lavar, da água caindo do chuveiro, no som das águas do mar. É natural que cada um de nós também tenha um ritmo próprio” (página 36).
Um ponto de formação interessante, além das leituras de infância e adolescência, foi o Clube do Conto da Paraíba, criado em 2004. Integrado por escritores paraibanos ou radicados no Estado, que se encontravam todos os sábados. Formado, entre outros, por Roberto de Menezes, Raoni Xavier, Antônio Mariano, Joana Belarmino, Ronaldo Monte, André Ricardo Aguiar.
Maria Valéria Rezende nasceu em 1942, na cidade de Santos, SP, onde viveu até os 18 anos. Em 1976, mudou-se para a Paraíba, onde vive até hoje. Formada em Pedagogia e em Língua e Literatura Francesa, e mestre em Sociologia, dedicou sua vida ao trabalho de educadora popular em movimentos e organizações urbanas e rurais e na formação de educadores. Em 2001, começou a publicar ficção e poesia para adultos, jovens e crianças, tendo recebido importantes prêmios nessa área.
Roberto Menezes é paraibano. Nasceu em 1978. É professor da Universidade Federal da Paraíba. Faz parte do Clube do Conto da Paraíba. Tem cinco livros publicados Pirilampos Cegos (romance), O Gosto Amargo de Qualquer Coisa (romance), Despoemas (contos) e Julho é um bom mês pra morrer (romance) e Palavras que devoram lágrimas (romance). Foi vencedor do Prêmio José Lins do Rego (2011). É um dos criadores da FLIPOBRE.
CONVERSA DE JARDIM | Maria Valéria Rezende e Roberto Menezes
Editora: Moinhos;
Tamanho: 99 págs.;
Lançamento: Março, 2018.
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