Dividiram a Tenda dos Autores na Festa Internacional da Literatura de Paraty (Flip) a escritora e crítica literária Beatriz Sarlo e a jornalista e ficcionista portuguesa Alexandra Lucas Coelho. Entre lamentações sobre a situação política e econômica do Brasil e trocas de experiências marcantes vividas em território brasileiro, o público assistiu a diferentes visões sobre como captar e transmitir ao leitor as sensações oriundas destas vivências.
Beatriz Sarlo iniciou falou bastante sobre Viagens – Da Amazônia às Malvinas, livro lançado em formato e-book pela editora e-galáxia, no qual ela relembra suas passagens por alguns países da América do Sul na década de 1960. Caronas com pescadores e peregrinações até Brasília estão em sua obra. Curiosamente, nenhum dos relatos do livro faziam parte de algum registro de viagem. A decisão de escrever suas memórias sobre o período veio há alguns anos, quando um amigo lhe enviou as fotos da viagem digitalizadas. “Quando ele me mandou as primeiras fotos, eu levei um susto. Não queria saber do passado”, explicou a escritora, que completou dizendo que sentiu ali que seu amigo lhe dava um dever de escrita. “Por isso resolvi contar a viagem na primeira pessoa do plural”, disse.

“O armamento que vi no Rio eu só tinha visto cobrindo guerras no Oriente Médio. Quem vive no Rio tem uma experiência de guerra no cotidiano.”
Ao ler um trecho de sua obra, Sarlo falou com certo tom de ironia sobre sua visão de mundo à época, com muitas tendências de esquerda. Neste momento, aproveitou para traçar um paralelo entre a política argentina e a brasileira. “A diferença fundamental entre o Brasil e o meu país é que aqui prenderam José Dirceu, no meu país ninguém foi preso, o vice-presidente continua sendo vice-presidente”. A escritora também comentou o carisma que, segundo ela, o ex-presidente Lula possui, mas que “não se pode transmitir o carisma”, comentou.
Alexandra está lançando Vai, Brasil, livro de crônicas, pela editora Tinta-da-China. Nele, a jornalista do jornal português Público narra suas percepções sobre nosso país, escritas no período que morou no Rio de Janeiro (entre 2010 e 2014). “Viver no Brasil foi uma experiência de ser atravessada pela variedade do idioma. Enchi meu caderno com frases que ouvi de São Gabriel da Cachoeira a Porto Alegre, cada palavra importava”, disse.

Alexandra, que tem experiência na cobertura de conflitos no Oriente-Médio e em outras partes do mundo, conta no livro seu testemunho sobre a guerra do tráfico de drogas nas favelas do Rio e a violência policial durante as Jornadas de Junho, em 2013. “O armamento que vi no Rio eu só tinha visto cobrindo guerras no Oriente Médio. Quem vive no Rio tem uma experiência de guerra no cotidiano”.
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