A Uruguaia, do argentino Pedro Mairal, rapidamente se tornou sucesso de crítica e best-seller no mundo hispânico. Além de uma lista de espera para tradução em diferentes idiomas, a obra já tem garantida uma adaptação para as telas do cinema e rendeu ao autor de 48 anos algumas premiações.
A badalação não é algo novo para Mairal, vencedor do prêmio Clarín na categoria romance, em 1998, por Una noche con Sabrina Love, sua estreia no gênero, não traduzido no Brasil, e que também foi levado ao cinema.
Narrado em primeira pessoa, A Uruguaia (todavia, 2018; tradução de Heloisa Jahn) tem como protagonista um escritor argentino de quarenta anos, chamado Lucas Pereyra, que viaja de Buenos Aires a Montevidéu com o objetivo de buscar quinze mil dólares, adiantamento de dois contratos de livros assinados meses antes. A escolha por retirar o dinheiro no país vizinho não é à toa. Desta maneira, conseguirá contornar restrições cambiais argentinas. Esta quantia seria fundamental para resolver o aperto financeiro em que vive, dando gás a que mantenha as contas de casa ao menos durante o período que produz as obras.
Pedro Mairal nos entrega um protagonista egocêntrico e manipulador, mas também fragilizado internamente – não é difícil encontrar em Lucas uma depressão adjacente em virtude do que enxerga como falência de sua masculinidade.
Mas o desemprego não é o único problema que Lucas Pereyra enfrenta. Um bloqueio criativo o impede de escrever mísera página e a crise conjugal que vive é amplificada quando ele passa a fantasiar sobre uma uruguaia que conhecera em um festival literário. A oportunidade de ir a Montevidéu, então, também aparece como a chance de reencontrar Magalí Guerra, a uruguaia encantadora por quem tem forte atração. Esta segunda intenção é tão ou mais forte que a primeira.
A capital uruguaia é um espelho invertido da sua realidade portenha. Guerra é para Pereyra uma alternativa à sua realidade, um contorno à carga pesada que a paternidade representa, às desconfianças que cercam seu matrimônio. O protagonista mergulha nesta viagem como quem busca uma espécie de liberdade perdida. A obsessão que carrega por Guerra é pungente, confundindo-se constantemente com a própria crise de identidade que enfrenta. Na juventude de Magalí, Lucas enxerga sua ânsia de liberdade e de recuperar sua própria juventude, numa espécie de egoísmo consciente – espera que as mulheres orbitem sua existência como responsáveis diretamente pelo céu e inferno de sua vida, mas sem oferecer nenhuma contrapartida da presença física e espiritual delas.
Pedro Mairal nos entrega um protagonista egocêntrico e manipulador, mas também fragilizado internamente – não é difícil encontrar em Lucas uma depressão adjacente em virtude do que enxerga como falência de sua masculinidade: a pretensa traição da esposa, a falta de traquejo paterno e o engessamento profissional. E mesmo com essa espécie de estudo sobre as vulnerabilidades masculinas, e a forma como constrói a narrativa através de reflexões sobre passado-presente-futuro, a obra segue um ritmo direto, que prende o leitor na forma leve em que nos apresenta, também, uma Montevidéu tão bucólica quanto a trama.
A URUGUAIA | Pedro Mairal
Editora: todavia;
Tradução: Heloisa Jahn;
Tamanho: 128 págs.;
Lançamento: Julho, 2018.