Durante uma viagem a Bruxelas, o detetive Maigret suspeita do comportamento de um homem na estação de trem e passa a segui-lo até ser surpreendido por um suicídio aparentemente inexplicável. Convencido de que ele próprio causou a morte do homem, Maigret, tomado por um sentimento de culpa, passa a investigar a vida do sujeito e acaba se deparando com uma intrincada trama envolvendo um passado cheio de erros.
O Enforcado de Saint-Pholien, lançado pela editora Companhia das Letras, com tradução de André Telles, é o primeiro livro que leio do escritor belga Georges Simenon e talvez eu demore um pouco para terminar de ler o restante da obra do moço, já que ele escreveu mais de 400 livros (pelo visto, ele não é o tipo de pessoa que perde tempo com coisas inúteis, como ir ao banheiro, por exemplo).
O que se percebe com facilidade é o pleno domínio do gênero, como não poderia ser diferente para alguém que praticou tanto, mas para além disso é interessante notar o cuidado com a linguagem.
O que se percebe com facilidade é o pleno domínio do gênero, como não poderia ser diferente para alguém que praticou tanto, mas para além disso é interessante notar o cuidado com a linguagem. Diferentemente de alguns de seus pares da literatura policial, Simenon demonstra uma grande preocupação estética no modo de contar a sua história. Ele constrói um texto enxuto, mas com frases bem polidas e até mesmo alguns aforismos, emprestando mais complexidade e possibilidades de reflexão à narrativa. Dos escritores atuais (que eu li) deste gênero , talvez Jo Nesbø se aproxime mais do estilo da escrita e do tipo de astúcia do protagonista, embora o detetive Harry Hole não seja lá um sujeito muito elegante em comparação ao personagem de Simenon.
O belga flerta com questões bem interessantes. Há um certo momento, por exemplo, em que o livro aborda questões bem parecidas com os dilemas sofridos por Raskólnikov, em Crime e Castigo, de Fiódor Dostoievski, seguindo aquele argumentação tortuosa das almas atormentadas que se julgam superiores. Contudo, como o interesse aqui é explorar o mistério de forma prática, a filosofia é deixada de lado para que se dê andamento à investigação, com as tradicionais explicações didáticas ao final.
Do ponto de vista do enredo, há algumas forçadas de barra, principalmente nos atos iniciais que conduzem ao tal do suicídio. A investigação segue a estrutura convencional de interrogatórios e descobrimento de pistas, o diferencial aqui é que supostamente nenhum crime foi cometido e que o detetive busca não exatamente a justiça, mas a expiação da culpa. Motivos mais do que suficientes para encarar a obra, certo?
O ENFORCADO DE SAINT-PHOLIEN | Georges Simenon
Editora: Companhia das Letras;
Tradução: André Telles;
Tamanho: 116 págs.;
Lançamento: Abril, 2014.