Os escritos de Renato Russo, morto em 1996, estão sendo resgatados por seus herdeiros e, desde 2015, estão ganhando as prateleiras das livrarias. Depois de Só por hoje e para sempre, diário em que conta sua luta em uma rehab carioca, e The 42nd street band, ficção sobre Eric Russell – seu alter ego – e a banda que dá título ao livro, chegou há pouco às lojas O Livro das Listas, talvez o menos necessário dos três lançamentos até agora.
Espécie de coletânea de influências do líder da Legião Urbana, O Livro das Listas só se justifica aos fãs mais ardorosos do cantor. Renato sempre foi uma colcha de retalhos de influência: conseguiu misturar em uma mesma música mitologia grega, música popular brasileira e sua observação arguta sobre a situação do país – como no caso de “Perfeição”, single do álbum O Descobrimento do Brasil (1993).
O livro é menos engenhoso do que poderia ser, não por Renato Russo, mas pela concepção mercantilista que fizeram daquilo que era pouco mais que uma série de comentários íntimos sobre gostos pessoais.
Esse balaio nunca foi segredo e fazia parte da aura que envolvia o artista. Após sua morte, livros como Renato Russo de A a Z e Entrevistas com Renato Russo começaram a aparecer no mercado – dando uma dimensão da importância daquilo que compunha o ideário do criador de “Faroeste caboclo”, que segundo o próprio era uma mistura de “Domingo no parque”, d’Os Mutantes, e “Hurricane”, de Bob Dylan. O jornalista Luiz Felipe Carneiro, do canal Alta Fidelidade, afirma que os Smiths devem seu sucesso no Brasil à devoção que Russo expressou pela banda na década de 1980. Talvez, seja um pouco de exagero, mas ainda assim o poderio de Renato Russo em influenciar gerações não foi pequeno.
Esse cenário até pode justificar O Livro das Listas, entretanto, a impressão que se tem ao consultar a obra é de ter um livro inacabado em mãos. Russo nunca planejou transformar suas anotações em uma “bíblia para os fãs”, ao contrário, sempre negou qualquer estereótipo messiânico. Como disse em um dos versos mais icônicos de “Há tempos” – e fortemente inspirada em Orwell –: “disciplina é liberdade”. Para Renato, era fundamental que os fãs pudessem escolher aquilo que realmente achavam importante e não se pautar somente pelo que a banda esbravejava nas letras. “Se você tiver um conceito legal de liberdade, imediatamente surge uma ideia positiva”, comentou em entrevista à revista Bizz, em 1990.
Nesse sentido, O Livro das Listas materializa aquilo que está subjetivo nas letras de Renato Russo. De Cohen – que gravou em 1994 para o projeto The Stonewall Celebration Concert e que só foi lançando no póstumo O Último Solo (1997) – passando por Smiths/Morrissey, filmes, alguns “top vinte/top dez” e listas de compras de LPs e CDs.
No final das contas, o livro é menos engenhoso do que poderia ser, não por Renato Russo, mas pela concepção mercantilista que fizeram daquilo que era pouco mais que uma série de comentários íntimos sobre gostos pessoais.
O LIVRO DAS LISTAS | Renato Russo
Editora: Companhias das Letras;
Tamanho: 220 págs.;
Lançamento: Setembro, 2017.