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A voz da negritude em ‘Ponciá Vicêncio’

Em 'Ponciá Vicêncio', Conceição Evaristo ficcionaliza a herança da escravidão.

porMarilia Kubota
19 de dezembro de 2017
em Literatura
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A voz da negritude em 'Ponciá Vicêncio'

Imagem: Reprodução.

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Ponciá Vicêncio (Pallas, 2003), de Conceição Evaristo, conta a história da personagem-título. Neta de escravos, recebe como herança a dor do avô, que se mutila por não suportar a escravidão, e a do pai, humilhado como pajem de um menino branco. Quando o pai morre, Ponciá decide emigrar, deixando o irmão Luandi e a mãe Maria na vila.

Na cidade grande, a ideia é juntar dinheiro para trazer a mãe e o irmão. Mas o irmão acaba também deixando a vila, e a mãe vai atrás deles. Ponciá encontra um emprego e um companheiro. Aborta sete vezes e sente o vazio da falta de vínculos familiares. Sua relação com o companheiro é permeada pela  violência. Ela fica deprimida e só se recupera quando reencontra a família.

A linguagem de Conceição Evaristo é poética e dramática, jamais deslizando para o sentimentalismo. É curioso que todos os personagens sejam nomeados, na maior parte das vezes, com seu nome completo: Ponciá Vicêncio, Luandi José Vicêncio, Maria Vicêncio. Vicêncio é herança dos tempos de escravidão, nome da família do coronel onde o avô vivia e que depois os negros alforriados passaram a ocupar. Se o nome familiar faz criar vínculos,  singulariza e individualiza, é também a memória da marca da opressão:

“Tempos e tempos atrás, quando os negros ganharam aquelas terras, pensaram que estivessem ganhando a verdadeira alforria. Engano. Em muito pouca coisa a situação de antes diferia da do momento. As terras tinham sido ofertas dos amigos dos donos que alegavam ser presente de libertação. E, como tal, podiam ficar por ali, levantar moradia e plantar seus sustentos. Uma condição havia, entretanto, a de que continuassem todos a trabalhar nas terras do Coronel Vicêncio. O coração de muitos regozijava, iam ser livres, ter moradia fora da fazenda, ter as suas terras e os seus plantios. Para alguns, Coronel Vicêncio parecia um pai, um senhor Deus. O tempo passava e ali estavam os antigos escravos, agora libertos pela ‘Lei Áurea’, os seus filhos nascidos do ‘Ventre Livre’ e os seus netos, que nunca seriam escravos. Sonhando todos sob os efeitos de uma liberdade assinada por uma princesa, fada-madrinha, que do antigo chicote fez uma varinha de condão. Todos ainda, sob o jugo de um poder que, como Deus, se fazia eterno.” (Página 42).

A linguagem de Conceição Evaristo é poética e dramática, jamais deslizando para o sentimentalismo.

É deste poder eterno que Ponciá quer fugir. Quando ela sai da terra dos negros, abre caminho para que o irmão também se liberte. Na cidade, Luandi realiza o sonho de se tornar soldado. E a mãe, em busca dos filhos, também sai e se liberta. Curiosamente, o reencontro não acontece na cidade, e sim no retorno à terra dos negros. O que sinaliza que era preciso libertar-se da memória da escravidão para construir uma nova história.

Um detalhe que perpassa a narrativa é a ligação com a arte do barro. Desde a infância, Ponciá mostra talento para a arte, surpreendendo a todos por modelar uma figura de barro com a aparência da avô, sem nunca tê-lo visto.  No retorno à vila, a cerâmica continua sendo uma atividade nuclear.

A escritora Conceição Evaristo nasceu em Belo Horizonte, em 1946, numa favela no alto da Avenida Afonso Pena, como era uma área valorizada da capital, a população que lá vivia foi removida para outros bairros da cidade e da área metropolitana, para que novos prédios e ruas fossem construídos na região. Conceição carrega nas memórias acontecimentos e pessoas do seu tempo de infância, algumas vezes, participam de suas narrativas. Dona Joana, sua mãe, teve nove filhos, era doméstica e lavava roupas para fora; mesmo assim, encontrava tempo para lhes contar histórias que também fazem parte do acervo de Conceição Evaristo, que se diz nascida cercada delas.

Enquanto estudava, a autora trabalhou de doméstica na capital mineira. Em 1971, formou-se professora no antigo curso Normal e depois se mudou para o Rio de Janeiro, onde foi aprovada em um concurso municipal para magistério e, posteriormente, no curso de Letras na Universidade Federal daquele Estado.

Conceição Evaristo é uma das principais escritoras da literatura brasileira e afro-brasileira atualmente. Em sua literatura, traz importantes reflexões sobre as questões de raça e de gênero, com o propósito de revelar a desigualdade e de recuperar uma memória sofrida da população afro-brasileira em toda sua riqueza e potencialidade. A obra Ponciá Vicêncio é o primeiro romance de Conceição Evaristo. Nela são narrados problemas do cotidiano das mulheres afrodescendentes sob um ponto de vista claramente feminino e negro.

PONCIÁ VICÊNCIO | Conceição Evaristo

Editora: Pallas;
Tamanho: 120 págs.;
Lançamento: Abril, 2014.

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Tags: Conceição EvaristoCrítica LiteráriaescravidãoLiteraturaLiteratura BrasileiraLiteratura Femininaliteratura negraMazzamullheres negrasOpressãoPallasPonciá VicêncioResenha

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