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‘A Trama do Casamento’: o metaromance de Eugenides

Em 'A trama do Casamento', o escritor norte-americano Jeffrey Eugenides emula a estrutura dos enredos de amor do século XIX e se vale da metalinguagem.

porAnna Carolina Azevedo
20 de abril de 2015
em Literatura
A A
'A Trama do Casamento': o metaromance de Eugenides

Imagem: Reprodução.

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Com o ritmo retomado depois das biografias, o “Desafio dos 50 livros” entra em uma etapa de leitura de autores estrangeiros em atividade, que se inicia com o livro sobre o qual eu falarei hoje e irá desembocar em Coetzee, nas linhas dolorosas de Desonra (cujas inúmeras razões para encará-lo você pode conferir aqui).

Depois de uma indicação da Maura, também integrante da Escotilha, cheguei a Jeffrey Eugenides, um autor supercontemporâneo que, até então, eu desconhecia por completo. Ainda em janeiro, ela me emprestou o livro e, no mês seguinte, mergulhei em A Trama do Casamento (Companhia das Letras, 2012, com uma tradução bem bacana de Caetano W. Galindo).

A história se passa nos anos 80 e narra as inquietações sentimentais da jovem Madeleine Hanna. A pseudo-protagonista (e logo explico o porquê do “pseudo”) se dedicou não só ao longo da graduação em Letras na Brown University, como em toda sua trajetória como leitora a romances da literatura em língua inglesa do século XIX arquitetados sobre tramas amorosas. Ao final do curso, porém, Madeleine se vê em conflito entre preferência pessoal e seus novos percursos acadêmicos. Sobretudo depois de matricular-se no curso de Semiótica 211, uma espécie de seminário avançado ou disciplina optativa em sua grade curricular.

Os estudos semióticos, bem como o feminismo, estão em evidência naquele início de década. Ao descobrir críticos como Derrida, Foucault, Deleuze e Blanchot, Madeleine percebe que a nova teoria francesa (aquela que anda dominando as conversas pelo campus da Brown) desconstrói, por meio de uma abordagem linguística de vanguarda, a noção de amor em que sempre acreditou. A leitura de Fragmentos de um discurso amoroso, de Roland Barthes, vai se mostrar especialmente angustiante/provocadora e suscitar uma das questões que permeiam o romance: até que ponto se adequar a um viés de mundo pouco sentimental? Em que aspecto o apreço por histórias água-com-açúcar como as de Jane Austen ainda justifica a graduação em Letras – desde sempre questionada por sua mãe, a sem-noção Phyllida Hanna?

No entanto, é na vida sentimental dessa versão moderna de mocinha vitoriana que reside o conflito principal de A trama do Casamento. Não me soa fortuita a citação a Tainted Love no início do primeiro capítulo. Os versos da dupla Soft Cell, ícone da cena Pós-Punk oitentista, parecem embalar os conflitos de Madeleine. Sometimes I feel I’ve got to / Run away I’ve got to / Get away. Assim como ocorre nos escritos a que se dedica, ela se vê dividida entre dois pretendentes. Mitchell Grammaticus e Leonard Bankhead, também estudantes da mesma universidade, têm perfis totalmente antagônicos e suas histórias roubam o foco da heroína construída por Eugenides – daí a definição de “pseudo-protagonista”.

Diante da força e da complexidade desses dois personagens [Leonard e Mitchell], a filha caçula dos Hanna não chega a empolgar.

Em post sobre A trama do Casamento lá no Livrada! (leia aqui), o Yuri, outro membro do time desta Escotilha, chega a afirmar que Bankhead e Grammaticus são dois trastes – em muitos momentos, eu partilho dessa ideia. O estudante de Biologia Leonard Bankhead encontra-se em (uma tentativa de) tratamento de seu transtorno maníaco-depressivo. É um cara cujo alto quociente intelectual é inversamente proporcional à inteligência emocional, totalmente instável. Seu opositor é Mitchell Grammaticus, filho de uma família de ascendência grega e afeito à Teologia. Vivendo uma fase esotérica, Mitchell – o melhor amigo de Madeleine, diga-se – embarca em uma viagem para Calcutá, no melhor estilo peregrino. Diante da força e da complexidade desses dois personagens, a filha caçula dos Hanna não chega a empolgar.

O metaromance de Eugenides provocou em mim algumas metaleituras. Logo no começo do livro, rolou certa familiaridade com alguns assuntos e teóricos citados, resultado das minhas duas passagens pelo curso de Letras. Em uma perspectiva mais profunda – ou literalmente psicológica -, o que me atingiu em cheio foi a identificação imediata com Leonard Bankhead – não à toa, meu personagem favorito. Isso porque o que há três décadas era definido como transtorno maníaco-depressivo, hoje se conhece por pertubação bipolar do humor. Há nove anos, fui diagnosticada com esse distúrbio. Desde então, me submeto ao tratamento medicamentoso e as visitas ao psiquiatra são periódicas. Transtorno bipolar não é modinha, tampouco um mal da contemporaneidade. Há quem defenda, inclusive, que o comportamento de Beethoven, lá na virada dos séculos XVIII e XIX, oscilava entre momentos intensos de mania/euforia e crises de depressão suicidas. A parada é crônica e atinge indivíduos com vulnerabilidade genética para a doença – não há motivo para vergonha, portanto. Com o uso dos remédios, dá pra controlar os sintomas numa boa. Só que se eu não tomar minhas pílulas mágicas de manhã, corro o risco de descarrilhar tipo O trem desgovernado. É exatamente o que acontece, por exemplo, quando Leonard inventa de fazer experiências com sua dosagem de lítio.

Por mais louco que possa parecer, foi tragicômico enxergar em mim alguns sintomas de Leonard – desde a impaciência diante de frases intermináveis (e a consequente ansiedade em querer conclui-las) até os sumiços repentinos em situações diversas. A sequência em que ele foge de uma festa e desaparece em uma estação de metrô é quase autobiográfica. E, sem sarcasmo, foi motivo de boas gargalhadas. Claro, eu bem sei da seriedade do assunto, muitas vezes motivo de sofrimento para os (nem sempre) pacientes e suas famílias. Só que, sei lá, tirar onda dessas coisas chatas é uma maneira leve de encarar o problema. Por mais que passe por vários perrengues, seja no âmbito acadêmico ou no das relações sociais, Leonard Bankhead parece não se intimidar tanto com o mal ao qual está fadado. Anna Carolina Azevedo também não.

Enfim, o terceiro livro de Jeffrey Eugenides – o norte-americano assina também As Virgens Suicidas e Middlesex – é um romance bem arquitetado. O autor se mostra competente ao emular a estrutura dos enredos de amor do século XIX para contar as histórias de Madeleine, Leonard e Mitchell. Revisita esse formato em uma abordagem contemporânea, com capítulos em que o foco de narração se alterna – destaque para as passagens que se debruçam sobre Leonard, nas quais a narrativa parece propositalmente tão instável quanto o personagem. Em suma, é um bom livro: mereceu dedicação quase exclusiva no mês de fevereiro e quatro estrelas na minha avaliação no Skoob. Vale a leitura.

A TRAMA DO CASAMENTO | Jeffrey Eugenides

Editora: Companhia das Letras;
Tradução: Caetano W. Galindo;
Tamanho: 440 págs.;
Lançamento: Maio, 2012.

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Tags: A trama do casamentoBeethovenBook ReviewCríticaCrítica LiteráriaDesafio dos 50 livrosJane AustenJeffrey EugenidesLeonard BankheadLiteraturaLivrada!Madeleine HannaMitchell GrammaticusO trem desgovernadoResenhaSkoobSoft CellTainted Lovetranstorno bipolar

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