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‘Trilogia do adeus’: um incessante despedir-se

Em 'Trilogia do adeus', João Anzanello Carrascoza valoriza os paradoxos inerentes à condição humana.

porTamlyn Ghannam
25 de junho de 2017
em Literatura
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'Trilogia do adeus': um incessante despedir-se

Imagem: Reprodução.

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Família, finitude, ausência e sabedoria conectadas poeticamente: eis os ingredientes da Trilogia do adeus, de João Anzanello Carrascoza, composta por três romances curtos que realçam o valor dos laços domésticos como matéria determinante à formação do indivíduo. É partindo do mínimo que o autor paulista chega à essência do absoluto, transformando as imperfeições e detalhes cotidianos em degraus que levam às complexidades que nos fazem humanos.

O primeiro volume, Caderno de um ausente, é narrado por um homem na casa dos 50 anos, João, cuja filha, Bia, acaba de nascer. Ciente da considerável diferença de idade entre os dois e de sua iminente e infalível separação, o pai decide escrever um caderno que a acompanhe quando ele já não puder fazê-lo. Diante do nascimento de Bia e do ato de escrever essa espécie de diário direcionado a ela é que João toma consciência de sua própria finitude e desenreda tal consciência assustadora a partir de reflexões sensíveis e filosóficas a respeito de temas universais, com os quais a filha eventualmente irá deparar ao longo de seu amadurecimento.

João aconselha Bia, mas sempre mantendo o espaço necessário para que ela busque cultivar as próprias experiências e se conhecer, esclarecendo que não é o detentor da verdade absoluta ao reconhecer sua humanidade passível de falhas. Estabelecendo um meio de contato entre eles, através da escrita, o narrador acaba por descobrir também um modo de comungar consigo mesmo, uma maneira de aproximar-se de si. João ensina a filha e se habilita a desacobertar o mundo, enfrentar suas irregularidades e virtudes.

Família, finitude, ausência e sabedoria conectadas poeticamente: eis os ingredientes da Trilogia do adeus, de João Anzanello Carrascoza, composta por três romances curtos que realçam o valor dos laços domésticos como matéria determinante à formação do indivíduo.

“Eis que, embora viver seja coisa grande, é também a força que lhe contraria, e não há como vencê-la, senão aceitando que a dor desenha em nossa pele, com esmero, um itinerário de pequenos cortes, ora arde um, ora sangra outro, e, às vezes, todos, juntos, nos queimam, em uníssono”.

Menina escrevendo com pai traz a resposta de Bia, já crescida, ao caderno paterno e aos estímulos que lhe causaram as palavras e momentos que eles desfrutaram juntos. A narradora dá voz aos próprios sentimentos e com eles acaba por manifestar o hibridismo que é fundação da natureza humana. Acompanhamos nesse segundo volume a comprovação das descrições feitas por João acerca da vida e a maneira particular com que Bia vivencia cada situação e descobre os paradoxos do ser e não ser, do presente que é imediatamente passado, da saudação que implica a despedida. Persiste o medo da finitude, como que herança irrecusável transmitida do pai à filha, fazendo com que ambos, de fato, escrevam juntos o mesmo relato, indissociáveis que são.

O volume que fecha a trilogia, A pele da terra, tem como narrador Mateus, irmão de Bia, em viagem com seu filho João, nome dado em homenagem ao avô. Apesar de ser também a narrativa de um pai, aqui sobressai menos a poesia do que a ação. Esse terceiro livro trata-se, acima de tudo, sobre aproveitar o pouco tempo disponível com quem se ama, questão elementar para a unidade da trilogia e que determina seu caráter cíclico.

Destacam-se nas três obras certos aspectos fundamentais para que elas sejam harmonicamente situadas como um conjunto. Em primeiro lugar, as noções de família e indivíduo, por um lado antagônicas e por outro absolutamente essenciais uma à outra. Carrascoza as desenvolve de modo a demonstrar que, da mesma maneira com que uma família é formada por diversos sujeitos individuais, o indivíduo carrega consigo, invariavelmente, sua ancestralidade, quer seja em seus traços físicos ou em sua perspectiva de mundo. Cada um de nós está impregnado pela hereditariedade que nos concebe como pessoas.

Há nos volumes da Trilogia do adeus a presença quase palpável do silêncio, este como representante de futuras ausências, do adeus irremediável e de tantas outras mensagens ditas através dele. A escrita de Carrascoza tem a quantidade certa de simplicidade e sensibilidade, combinação impactante, quase invasiva, na medida em que ocupa-se, com propriedade excepcional, de assuntos íntimos e comuns a todos. A preocupação do autor em conciliar forma e conteúdo e os recursos autoficcionais explorados por ele expandem o efeito das obras sobre quem lê e alimentam a familiaridade entre leitor, livro e autor.

Apoiado em elementos como a fugacidade, a memória, as incertezas e inseguranças, as raízes e a alteridade, João Anzanello Carrascoza arquiteta uma trilogia encantadora, singela, arrebatadora e imprevisível como a vida, aproveitável somente àqueles que estejam dispostos a abrir os olhos ao que nelas há de poético.

TRILOGIA DO ADEUS | João Anzanello Carrascoza

Editora: Alfaguara;
Tamanho: 400 págs.;
Lançamento: Março, 2017.

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Tags: AlfaguaraCompanhia das LetrasCríticaCrítica LiteráriaJoão Anzanello CarrascozaLiteraTamyLiteraturaLiteratura BrasileiraResenhaReviewTrilogia do adeus

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