Em meio às medidas de isolamento social, eventos e conferências pelo mundo todo foram cancelados. Alguns conseguiram encontrar maneiras de adaptar os formatos para versões online com lives no Instagram ou no YouTube. No meio dessa bagunça, um festival internacional de literatura fantástica apareceu com uma programação que reuniu autorias da ficção científica, da fantasia e do horror provenientes de diversos continentes e dominou este último fim de semana (12, 13 e 14).
O Relampeio Festival recebeu esse nome por conta da potência da ficção fantástica, que “relampeia como força unificadora para três conceitos necessários à sobrevivência: arte, imaginação e ciência”. Mas, diferente de um relâmpago, seus frutos não foram apenas um clarão de luz e um subsequente trovão passageiro: todas as palestrar ficaram gravadas e foram disponibilizadas no YouTube. Para auxiliar quem estiver procurando alguma boa palestra para assistir, organizei uma lista com os links das realizadas (ainda que a maioria delas tenha sido feita majoritariamente em espanhol ou inglês, a equipe do Relampeio realizou tradução simultânea via chat e logo legendará os vídeos).
Literatura independente no México
A mesa que abriu o festival teve a participação da escritora mexicana Libia Brenda, que publica livros de ficção científica e fantasia há 20 anos. A discussão principal girou ao redor das questões sobre o cenário da literatura independente e como a ficção especulativa pode lidar com a realidade – com depoimentos emocionantes sobre a participação dela em eventos internacionais e de um dos apoios que recebeu de Guillermo del Toro. A escritora e poeta Ana Rüsche participou da mesa como mediadora, contando com a participação da pesquisadora Mayara Barbosa e do editor Toni Moraes.
Assista abaixo (áudio original em espanhol).
Literatura fantástica contra o status quo
O escritor e editor da Rosario Press, Bill Campbell (EUA), também foi uma das atrações da mesa. O estadunidense é responsável por diversas publicações, como quadrinhos e antologias pioneiras sobre afrofuturismo. Além das questões sobre as vozes fora do status quo do homem branco, a mesa também discutiu sobre a pluralidade de formatos no mercado e como lidar com a publicação desses diferentes formatos. A escritora e pesquisadora Kali de los Santos mediou a mesa, enquanto o escritor afrofuturista Fábio Kabral e a escritora Iana Araújo fizeram perguntas (Iana, inclusive, publicou um texto com um relato sobre a experiência de participar da organização do evento)
Assista abaixo (áudio original em inglês).
Ficção científica na Argentina
Sob a coordenação de Ligia Colares, Teresa P. Mira de Echeverría, da Argentina, falou sobre a produção de Ficção Científica no país vizinho e os caminhos para publicação internacional. Com a participação da editora Giovana Bomentre e da escritora Lavínia Rocha, a discussão também versou sobre os questionamentos proporcionados pela literatura – como o questionamento das coisas naturalizadas na sociedade, muito visto nas obras do New Weird, ou a construção de identidades pela ficção científica.
Assista abaixo (áudio original em espanhol).
Otimismo e pessimismo na Ficção Científica
Kali de los Santos também coordena essa mesa com uma participante quase do outro lado do globo, a escritora e professora Xia Jia, da China. A escritora é conhecida não só pelas suas aulas de literatura chinesa, mas também por uma extensa produção de ficção curta – como contos e novelas – já publicada em revistas como Clarkesworld. Para aprofundar a discussão da mesa sobre os limites da Ficção Científica e o otimismo/pessimismo nesse papel participaram o jornalista André Cáceres e a também escritora e professora Nikelen Witter.
Assista abaixo (áudio original em inglês).
Não-nativos no mercado anglófono (e uma pitadinha de bruxaria e terror)
A escritora e editora Jana Bianchi, a escritora Carol Chiovatto e Anne Quiangala, responsável pelo “Preta, Nerd & Burning Hell”, discutiram sobre o papel do terror, as manifestações monstruosas e os caminhos para a publicação de não-nativos dentro do mercado anglófono com o convidado Thomas Olde Heuvelt. Como não podia faltar na mesa, a bruxaria não ficou de fora (Thomas escreveu Hex, um romance sobre bruxaria, assim como Carol, que escreveu Porém Bruxa e também tem as bruxas como objeto de pesquisa acadêmica).
Assista abaixo (áudio original em inglês).
No meio dessa bagunça, um festival internacional de literatura fantástica apareceu com uma programação que reuniu autorias da ficção científica, da fantasia e do horror provenientes de diversos continentes.
Auto-análise e subjetividades na escrita
Kiini Ibura Salaam, escritora estadunidense de ficção científica, participou de uma mesa mediada pela escritora Deborah Happ para falar sobre processos de identidade, subjetividade e auto-análise envolvidos na produção literária – valorizando o que o indivíduo tem pra dizer. Participaram da conversa a escritora, tradutora e ativista trans Hailey Kass e o escritor Ian Fraser, autor da série Araruama.
Clique aqui para assistir (áudio original em inglês).
Solarpunk e futuros possíveis
Direto do continente europeu, o escritor e editor italiano Francesco Verso se uniu ao escritor e tradutor Fábio Fernandes e ao escritor Waldson de Sousa, autor de Oceanïc, para uma conversa sobre a possibilidade de imaginar futuros, a criação de um novo imaginário, a criação de textos Solarpunk e a necessidade de tradução e consumo de histórias com autores de diferentes origens. Quem mediou esse papo foi o tradutor e ex-colaborador da Escotilha Petê Rissatti.
Assista abaixo (áudio original em inglês).
Ficção Científica brasileira
A única mesa em português contou com a presença da estadunidense Elizabeth Ginway, uma pesquisadora da ficção fantástica latino-americana. Ela já publicou livros como Ciborgues, Sexualidade e Mortos-Vivos: o corpo na ficção especulativa mexicana e brasileira. Quem mediou esse papo foi a escritora e editora Fernanda Castro, editora e responsável pela newsletter “The Bookworm Scientist”, com participação do pesquisador Elton Furlanetto e do escritor Sérgio Motta. Eles discutiram os principais aspectos da Ficção Científica no Brasil, e como é possível realizar pesquisas em ficção especulativa dentro de um contexto global.
Assista abaixo (áudio original em português).
Profissionalização da ficção curta
Enfim, a última mesa contou com a participação do editor Neil Clarke, responsável pela Clarkesworld Magazine, uma das revistas de ficção científica e fantasia publicas em inglês. Quem mediou a mesa foi a escritora e editora Jana Bianchi, com a participação dos escritores Anna Martino e de Jim Anotsu. Eles discutiram a profissionalização do mercado de escritores, como a ficção curta entra nesse cenário e qual importância tem o editor na conquista desses espaços de leitura e publicação.
Assista abaixo (áudio original em inglês).