Durante quase 10 anos, Wanessa deixou o Camargo de lado e tentou firmar sua marca na música, porém, a realidade é que a artista sempre precisou de epítetos: a filha de Zezé Di Camargo, a namorada do L do KLB, a namorada do garoto problema Dado Dolabella, a eterna sombra de Sandy. Apesar de todas essas provações, lá se vão mais de 15 anos de uma carreira bem-sucedida, que começou mais relacionada ao country, mas que solidificou-se quando ela assumiu seu lado pop e flertou com ritmos mais latinos, lá por meados dos anos 2000.
Em 2010, Wanessa voltou-se para a house music e um pop cada vez mais eletrônico, que buscava dialogar com o público internacional e quem sabe impulsionar a carreira da cantora no exterior. Cantando em inglês e apostando nas participações de rappers de segunda linha dos Estados Unidos, a fase “Xainirou” de Wanessa rendeu-lhe um contato ainda maior com o público LGBT, tendo ela cantado na Parada Gay de São Paulo e inúmeras boates gays Brasil a fora.
A fase dance não colocou Wanessa mais nas paradas musicais, o que aqui precisa de um adendo: nesses últimos 10 anos, as paradas musicais das rádios foram predominantemente dominadas pelos artistas do sertanejo universitário, nem bandas de pagode ou a Ivete Sangalo conseguiram emplacar grandes hits nesse circuito. O fato é que nesse meio tempo em que a cantora parecia estar focada em tentar internacionalizar sua carreira, ela inegavelmente construiu uma base sólida de fãs: os gays são um público muito fiel, do tipo que defende sua artista de tudo e todos.
Em 2009, Wanessa disse ‘eu gosto de sertanejo, tenho muito respeito e carinho pela música, um orgulho imenso do meu pai, mas não sou fã do gênero, não me identifico e não ouço’.
Em 2015, Wanessa entrou em estúdio e disse que seguiria com sua verve mais pop, porém, um tempo depois ela demitiu seus produtores, cancelou seu contrato com a Sony e disse que estava mudando os rumos de sua carreira. Ela então assinou com a Work Show, produtora responsável por grande parte dos lançamentos de sertanejo universitário, e afirmou que estaria adentrando no gênero sertanejo, pois disse que sua “pegada é o romantismo”. A internet, claro, foi rápida e já relembrou que, em 2009, Wanessa disse “eu gosto de sertanejo, tenho muito respeito e carinho pela música, um orgulho imenso do meu pai, mas não sou fã do gênero, não me identifico e não ouço”.
Apesar de dizer que era seu impulso romântico falando mais alto, a virada de rota de Wanessa ficou explícita como uma escolha basicamente mercadológica. Durante a divulgação do single “Coração Embriagado”, a cantora afirmou: “Quero ser da massa, uma artista que vai rodar o Brasil”. É latente a necessidade que Wanessa sente de ser uma grande estrela, ela parece não se contentar em ter um público cativo e modesto, ela quer as paradas de sucesso, os shows em estádios e todo esse alvoroço pop que ela conheceu no início dos anos 2000. Isso não seria algo negativo se a artista tivesse pulso firme suficiente para aliar seus anseios mercadológicos e qualquer pingo de anseio artístico. O que vemos atualmente é apenas uma artista mais preocupada com números do que qualquer singularidade artística.
Além disso, nesses últimos tempos, sua imagem pessoal se embrenhou ainda mais em sua carreira. Em 2014, a artista saiu do muro e decidiu por apoiar Aécio Neves em sua campanha à presidência, inclusive cantando em trios elétricos para o candidato. Desenhada a conflituosa relação da direita brasileira com a comunidade LGBT, é previsível se imaginar que o público de Wanessa se posicionou antagonicamente à escolha da artista, tentando demonstrar a incongruência de uma artista que lucrou sobre o público gay estar marchando ao lado de políticos que lutam contra os direitos dessa minoria.
Depois das polarizações políticas, foi a vez dos barracos familiares dos Camargos assumirem as páginas dos noticiários de fofoca. A separação de Zezé e Zilu gerou um sem-fim de notícias vergonhosas e uma lavação de roupa suja em praça pública. Zezé se mostrou um artista grosseiro nas redes sociais e expôs sua família a uma celeuma desnecessária. O ápice disso foi quando ele foi à mídia contar que Wanessa, alcoolizada, havia entrado em sua casa e agredido fisicamente sua atual namorada. Enquanto Wanessa tentava redirecionar sua carreira e lidar com o fato de grande parte da mídia estar chamando-a de oportunista, ainda teve que lidar com os dramas familiares, isto vindo de uma família que sempre adorou os holofotes – é só lembrar que a história deles rendeu o filme Dois Filhos de Francisco.
![Wanessa Camargo em foto de divulgação de seu álbum 33](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2017/04/wanessa_camargo-300x200.jpg)
33, o tal álbum sertanejo universitário de Wanessa Camargo, foi lançado oficialmente este ano e a conclusão é que realmente é apenas oportunismo. Não considero, pessoalmente, o feminejo dono de uma produção realmente interessante, porém, artistas como Maiara e Maraisa, Simone e Simaria e Marília Mendonça transmitem em suas canções uma verdade realmente credível. Há uma verossimilhança em suas obras, nós realmente compramos a ideia de que aquelas canções falam do cotidiano delas, de suas dores e de seus pileques. Wanessa, por sua vez, soa fria durante os quase 50 minutos de 33. É um universo que não casa com a imagem que a própria Wanessa sempre vendeu midiaticamente, além disso, toda a produção do disco soa suficientemente engessada. É como se Wanessa fosse uma novata, tentando a todo custo abraçar o filão do sertanejo universitário, mesmo que sua música soe pasteurizada e apática.
O fato é que, historicamente, Wanessa nunca foi uma artista realmente relevante ou interessante, ela teve a sorte de surgir num momento certo, em que conseguiu pegar o bonde de um cenário pop-romântico-pré-adolescente que vinha nas costas de Sandy & Júnior. Depois disso, tudo que ela fez foi tentar a qualquer custo emplacar alguma música e afiliar-se a algum novo filão. Porém, assim como Cláudia Leitte, por exemplo, Wanessa sempre soa forçada em sua persona pública. Elas jamais terão a naturalidade e carisma de Ivete Sangalo, por exemplo, ou a humildade de Sandy, que não possui hits nas paradas e que nem aparece toda hora na mídia, mas que possui um público fiel e shows lotados pelo país.
No final das contas, 33 é um tiro no escuro de Wanessa. É provável que os singles façam sucesso e que ela toque em muitas baladas “topzera”, porém, depois de passado o boom do sertanejo universitário, para onde Wanessa irá mirar sua metralhadora-de-falta-de-talento? Nesse momento, o que sabemos é que ela deixou de lado grande parte do público que ela havia construído nos últimos anos em busca de um sucesso radiofônico. Aparecendo em chamadas constantes nos intervalos da Globo, talvez Wanessa sinta-se realmente satisfeita com essas lufadas de sucesso, porém, a imagem que ela acaba por transmitir é apenas de uma garota perdida em meio à fama, que tenta eternamente fugir do fantasma de ser uma versão menor e menos rentável da Sandy.