Olha o vídeo aí embaixo e morda as mãos.
Pois é, o verão de 2015 em Londres ultrapassou o seu melhor. Os sortudos que estiverem por lá não deveriam perder a exposição The Jam: About the Young Idea (um pequeno verso perdido no meio de “In the City”, nome da música e também do primeiro álbum lançado por eles em 1977). O evento acontece no Somerset House, em Londres, até 31 de agosto desse ano. Faz parte das comemorações dos 40 anos do nascimento da banda, formada em 1975 na pequena Woking, cidade localizada ao oeste do condado de Surrey, na Inglaterra.
Fosse por Paul Weller, líder do The Jam, a exposição nunca aconteceria. Definitivamente ele não é um homem nostálgico. Confessa que sempre que finalizava um material, qualquer rastro era destruído, queimado “como se fosse uma cerimônia”, disse à revista Uncut recentemente. Fiquei chocada, mas não menos encantada, afinal falamos de Paul Weller, um cara focado e certamente, junto com Morrissey, um dos músicos que mais se deram bem em carreira solo.
Quem teve a ideia de organizar uma mostra sobre o The Jam foi Nick Weller, a irmã mais nova de Paul. O colecionador Den Davis puxou o coro. Nick foi a cocuradora do evento, com colaboração de Russel Reader e curadoria de Tory Turk. A inspiração para mostrar o acervo da banda veio da exposição David Bowie Is, aberta ao público no museu Albert & Vitoria, em 2013.
Nick encontrou muita coisa que estava perdida em algum canto. Uma das surpresas foi o material escolar de Paul, preservado, provavelmente, pela mãe deles. Na época, 1972, Paul, com 14 anos, tinha as capas de um “caderno normal”, segundo a irmã. Mas dentro, era pura arte. Ela se deparou com poesias escritas pelo irmão e um desenho que representava “As aventuras de Paul, o mod”. O pai, John Weller, empresário e grande incentivador do The Jam, também deixou alguns tesouros, como vídeos caseiros. John morreu em 2009, fato que se refletiu de imediato em Tree, álbum seguinte de Paul Weller.
O trio tinha a energia, o volume alto do punk, mas também tinha The Who, The Kinks e Small Faces na sua praia. E tinha aquele visual único, inspirado nos mods dos anos 1960.
Na exposição, que ocupa mais de dez salas, há de tudo – fotografias, roupas, instrumentos, fanzines, pôsteres, vídeos, rascunhos, artes das capas dos discos, letras e até o último kit de bateria usado no show impecável de despedida que fizeram no Live At Bingley Hall, em Birmingham (assista aqui).
O The Jam, formado por Paul Weller (vocal, guitarra), Rick Buckler (bateria) e Bruce Foxton (baixo), era o tipo de banda inspiradora que carregava um caldeirão de referências. O trio tinha a energia, o volume alto do punk, mas também tinha The Who, The Kinks e Small Faces na sua praia. E tinha aquele visual único, inspirado nos mods dos anos 1960. Paul Weller levou tão a sério o lance de ser um mod, que até hoje se considera um deles.
Quando Chris Parry, da Polydor, foi convidado por Shane McGowan, do Pogues, para ver o The Jam no Marquee Moon, em 22 de janeiro de 1977, ele ficou extasiado. Nas palavras de Parry, “o The Jam era absolutamente verdadeiro”. Em 1982, a banda estava no auge. Era um genuíno símbolo britânico. Já tinha cinco anos de estrada, seis álbuns lançados, várias excelentes posições na parada britânica e um respeitoso contrato com a Polydor. Entretanto, mesmo com tudo em cima, em 1982, Paul Weller decidiu pôr fim à banda. Chegavam à inevitável frustração e à perda de energia.
Além da exposição, os fãs também poderão ter na mão o box About The Young Ideia que vem acompanhado de um documentário e um álbum. Nicky Weller também acaba de lançar Growing up up with The Jam, cujo conteúdo conta com depoimentos de gente de peso, como Pete Townshend e Mick Jones.
Paul Weller comemora ao seu modo. Em maio desse ano, o músico lançou Saturns Pattern, seu 17º álbum solo, já disponível no Spotify. Depois da catarse que certamente o visitante irá viver, seja você ou não, recomendo dar uma passada no The Coal Hole pub que fica nas redondezas do Somerset House. É cool à altura do The Jam. Lá, beba uma pint por mim e lave a alma.
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