Por vezes, a sensação de que a relação entre Brasil e Portugal é demasiadamente pequena toma conta. Com tantas características em comum, que perpassam o idioma (e um acordo ortográfico), as conexões culturais, ao menos dos limites tupiniquins em direção à pátria mãe, parecem inexistir. É certo que há tentativas de estreitar estes laços, em especial na literatura. Mas e se fizéssemos o mesmo com a música?
Acredito que poucos grupos portugueses carreguem tanto o amor pelo Brasil quanto a Amor Electro, banda liderada pela carismática Marisa Liz. A Amor Electro é uma das grandes bandas da música portuguesa contemporânea, já tendo deixado há tempos a alcunha de aposta, ganhada no distante 2011, ano de formação do quinteto – completado por Tiago Pais Dias (guitarra), Ricardo Vasconcelos (baixo), Rui Rechena (teclado) e Mauro Ramos (bateria).
Se o imaginário do brasileiro resume a música feita em Portugal ao fado, a Amor Electro é uma ótima forma de desconstruir essa imagem.
Se o imaginário do brasileiro resume a música feita em Portugal ao fado, a Amor Electro é uma ótima forma de desconstruir essa imagem. O quinteto une rock, pop e doses de música tradicional portuguesa, cantadas sempre em português. [highlight color=”yellow”]Se as composições tem uma verve romântica forte, ela encontra eco nas interpretações de Marisa Liz, repletas de cargas de dramaticidade e teatralidade.[/highlight] Seu talento em trafegar de canções viscerais e pungentes às faixas mais melódicas e sensíveis garantiram à cantora uma cadeira como jurada na versão portuguesa do The Voice. Já em seu quarto ano seguido no programa, Marisa deixou evidente inúmeras vezes seu apreço pela música brasileira, com um episódio em que cita Elis Regina como uma das maiores vozes da música cantada em português no mundo.
Esse carinho por nosso país e pela música feita aqui também adentrou o time da Amor Electro. No perfil do grupo no YouTube, por exemplo, existem duas versões para músicas de artistas brasileiros. Além do ícone Vinicius de Moraes, Anitta e sua “Bang” ganharam uma versão cheia de suingue e cadência. Não é raro achar pela internet o grupo ou Marisa Liz interpretando alguma canção brasileira, com direito até a uma dos Mamonas Assassinas (“Lá Vem o Alemão“).
Essa afeição criou uma relação recíproca com uma legião de fãs brasileiros, que volta e meia inundam as redes sociais da Amor Electro com mensagens de amor e admiração. Preparando o lançamento do terceiro álbum de inéditas, prometido para este 2017, e que já ganhou um single (a faixa “Sei”, em parceria com o músico Miguel Pité), os portugueses carregam na bagagem dois discos: Cai o Carmo e a Trindade (ouça no Spotify), de 2011, e (R)evolução, de 2013. Com estes dois registros, já levaram para casa 2 Globos de Ouro (premiação com mais de 20 anos de existência em terras lusitanas, atribuídos a profissionais em várias áreas artísticas do país), 1 EBBA Awards, entre outras que os tornaram [highlight color=”yellow”]um símbolo de sucesso na música local[/highlight] – e lhes rendeu a admiração de artistas como Daniela Mercury.
Entre um LP e outro, um visível amadurecimento – ou uma revolução/evolução, como brinca o próprio nome do álbum. A marca da Amor Electro ficou, mesmo, sendo a intensidade que imprimem em suas composições – e a dramaticidade da interpretação ímpar de Marisa Liz. Essa sonoridade agridoce, permeada por uma ligeira agonia e bastante saudosismo, é fruto de uma das mais marcantes idiossincrasias da música lusitana. Com os discos, rodaram o país, incendiando os palcos portugueses e criando um culto em torno da banda, ainda que, não raramente, todos os músicos, especialmente Marisa, relativizem o sucesso obtido.
Decerto, o que tanto portugueses quanto brasileiros estão na expectativa é pelo novo disco. Que não tarde.
NO RADAR | Amor Electro
Onde: Lisboa, Portugal.
Quando: 2011.
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