Conhecer Kamasi Washington é conhecer o que há de mais fresco no jazz contemporâneo. Obviamente, os ouvintes de um jazz mais tradicional haverão de torcer o nariz para o que este (grande) homem conseguiu fazer em seu disco de estreia, The Epic. De posse do seu sax tenor, instrumento tão familiar para gênios do jazz como Dexter Gordon e (o maior deles) John Coltrane, Kamasi Washington oferece originalidade para o gênero, tão necessária em qualquer estilo musical. Aliás, vamos pensar além: necessária para qualquer forma de expressão artística.
Kamasi Washington nasceu no Estado da Califórnia no ano de 1981. O ambiente sempre lhe foi favorável, já que seus pais sempre estiveram envolvidos com o ensino da música. Aprendeu bem cedo a tocar piano, bateria e clarinete, mas o despertar para o saxofone somente ocorreu aos treze anos, quando tomou-o de cima de um piano. Ali, diante dele, estava o instrumento que iria mudar toda a sua perspectiva de vida, de mundo, sobretudo em relação à música. Ao tocar o saxofone pela primeira vez, certa química envolveu-o, enlaçou músico e instrumento, tornando-os um só.
Após descobrir-se enquanto saxofonista, Kamasi Washington graduou-se na Academia de Música de Alexander Hamilton (High School) e, posteriormente, em Etnomusicologia na Universidade da Califórnia. Ou seja, estudou teoria musical a fundo e, ao mesmo tempo, ampliou seus horizontes musicais com o estudo da diversidade étnico-musical, presente de forma considerável em seu trabalho. Ainda no período de escola, formou a banda The Young Jazz Giants com amigos do colegial, amigos estes que tornaram-se grandes músicos, como é o caso de Stephen Bruner – popularmente conhecido como Thundercat (Suicidal Tendencies, Infectious-Grooves).
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Com Kamasi Washington, a junção da técnica ao manejo e habilidade com o instrumento foi preponderante para tornar-se o artista que hoje desponta.
O The Young Giants gravou o primeiro disco da carreira enquanto ainda estavam na Universidade. O grupo chamou a atenção de muitos músicos e artistas influentes pela qualidade musical e inventividade. Com Kamasi Washington, a junção da técnica ao manejo e habilidade com o instrumento foi preponderante para tornar-se o artista que hoje desponta. Amadureceu ainda mais como instrumentista a partir do momento em que tornou-se músico de apoio para nomes como Snoop Dogg, Raphael Saadiq e (posteriormente) Lauryn Hill, Quincy Jones e Stanley Clarke.
Experimentando expressões musicais tão distintas quanto jazz, hip-hop, pop music e soul, Kamasi Washington (por fim) decidiu por dedicar-se a um trabalho solo. Pôde enfim demonstrar ao público, e a todos os artistas que o acompanham e o acompanharam, o seu próprio modo de ver a música, de sentir e traduzi-la. E, para tanto, nada melhor que gravar um disco impactante, monstruoso: épico. The Epic possui, precisamente, 178 minutos de duração. É grandiloquente, é tão grande quanto a vontade de compreender, sentir o mundo. E tudo isso através do seu saxofone.
The Epic, lançado em maio de 2015, tem recebido críticas positivas do mundo todo. É um disco essencialmente de jazz, mas que consegue agradar ouvintes de todos os estilos musicais por conta de seu easy listening. E essa característica não faz do disco pop, tampouco escasso de boas referências do gênero eternizado por Coltrane. Temos a essência dele em cada sopro, em cada ausência; ali está, aclamado, reverenciando o seu próprio reflexo. O reflexo de um grande homem, e um grande disco. Kamasi Washington. Das grandes surpresas deste ano, não só para o jazz, mas para quem gosta de boa música, sem rótulos e/ou pressupostos.
Vale a pena conhecer.