Adrian Quesada tem sua trajetória artística cruzada com a do eterno Prince, mas também com a música brasileira. O texano de Laredo, mas com família de origem mexicana, é fã confesso d’Os Mutantes, de Caetano Veloso e da Som Imaginário.
Dali, Quesada retirou parte de sua verve psicodélica para estar à frente do Grupo Fantasma, uma banda de funk latino que acompanhou Prince em uma série de show na década de 1990. Ao deixar o grupo em busca de refrescar suas ideias a respeito de música, Quesada enveredou definitivamente para o soul, sem, no entanto, deixar a verve psicodélica de lado.
Foi em 2017 que sua história cruzou a de Eric Burton, até então um ilustre desconhecido cantor de rua no píer de Santa Mônica e no centro de Austin. Hoje a dupla é responsável por um dos projetos mais interessantes da música contemporânea, o duo Black Pumas.
Com datas marcadas remarcadas para shows no Brasil (em virtude da pandemia do coronavírus), a Black Pumas e seu álbum homônimo são definitivamente dignos de atenção do seu player musical preferido.
A trajetória até se encontrarem e darem origem ao Black Pumas, em 2018, parece ter sido escrita à mão. É difícil imaginar como Black Pumas (o álbum) soaria sem a voz gentil e potente de Burton, que parece abraçar a atmosfera criada por Quesada em cada trilha de bateria, guitarra, baixo e órgão.
Burton é um cantor poderoso, daqueles que parecem capazes de transformar qualquer faísca em um incêndio, de levar o público à catarse coletiva. No entanto, seu talento permite que sua voz flutue sem grandes esforços para um falsete delicado, ou mesmo que ela se encaixe em baladas com um acento mais sensual.
As 10 canções que compõem Black Pumas dão um salto nas décadas de 1960 e 1970 de maneira bem despretensiosa.
Imaginar que todo o conjunto sonoro é fruto das ideias de Quesada é admirável, pois não há excessos ou redundâncias. Não aparenta que estejamos diante de um megalomaníaco sufocador de ideias alheias.
As 10 canções que compõem Black Pumas dão um salto nas décadas de 1960 e 1970 de maneira bem despretensiosa. É esse trânsito frequente entre uma sonoridade que remete aos tempos áureos da Motown, de Curtis Mayfield, de Sly Stone e Al Green que torna seus shows espetáculos ímpares, disputados com unhas e dentes pela audiência. Foi também a razão para ganharem uma indicação ao Emmy de 2020 na categoria “Artista Revelação” (vencida por Billie Eilish).
“Colors” rapidamente tornou-se um hino, sucesso nas rádios e serviços de streaming. Burton e Quesada fazem muito bom uso da estética inebriante que tomam para si. Suas ideias ganham diferentes matizes conforme a necessidade.
O álbum vai da doçura à melancolia e de um R&B mais generalista a um groove de soul genuíno com brilhantismo. E recorde-se: estamos diante de uma dupla com histórias e bagagens distintas, que se conhecem há pouco mais de 2 anos. É notório como se completam, como almas gêmeas. A ver o resultado dessa pausa por conta da pandemia.
Ao que tudo indica (e de acordo com o que Quesada tem dito em entrevistas), teremos um novo disco em breve. Agradecemos.
NO RADAR | Black Pumas
Onde: Texas, Estados Unidos;
Quando: 2018;
Onde: Site | Facebook | YouTube | Instagram | SoundCloud
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