Ao longo de sua extensa biografia, Robert Allen Zimmermen esteve nos holofotes em diversos diferentes momentos. O mais recente deles foi no ano passado, ao ser elegido pela Academia Sueca para receber o Prêmio Nobel de Literatura de 2016. Bob Dylan foi agraciado com um Nobel por “criar novas expressões poéticas dentro da grande tradição da música norte-americana”, segundo o comunicado oficial da instituição a época da premiação.
Simplesmente um dos artistas mais versáteis do nosso tempo não apenas na poesia e na música, Bob Dylan flertou também com a dramaturgia, tanto atuando quanto produzindo roteiros. Mas há um lado bem menos difundido do artista que recentemente vem ocupando espaços em algumas galerias de arte pelo mundo.
Enquanto esteve em tour pelos Estados Unidos entre os anos de 1989 e 1992, ele criou uma coleção de desenhos e pinturas, entre eles esboços, aquarelas e obras em tinta acrílica de paisagens, retratos femininos, interiores, nus, naturezas mortas e, sobretudo, cenas de rua.
Estas pinturas formam uma coleção intitulada The Draw Blank Series, que foi transformada em livro, e hoje as obras originais circulam por museus e galerias de arte na Europa. Quem sabe – torcemos -, em breve no Brasil também. Várias destas obras são versões de uma mesma imagem ou paisagem retratadas em diferentes tons, cores e técnicas, resultando em uma dinâmica variedade de impressões e sentimentos em suas obras plásticas.
A América como Dylan viu em turnê
As obras expõem imagens do interior dos Estados Unidos por excelência, ao mesmo tempo icônicas e cotidianas. Trilhos solidários de rodovias, pontes, sorveterias, paisagens noturnas. Tudo tão íntimo quanto universal. É curioso estar frente a frente com um trabalho artístico de um grande nome como Bod Dylan, mas em um formato com qual não estamos habituados.
É curioso estar frente a frente com um trabalho artístico de um grande nome como Bod Dylan, mas em um formato com qual não estamos habituados.
“Se há uma trilha sonora possível para esse conjunto de pinturas, eu diria que seriam as gravações de Peetie Wheatstraw para alguns lugares, Charlie Parker em outros, Clifford Brown ou Blind Lemon, talvez Guitar Slim – artistas que nos fazem tão maiores quando os escutamos.”
As aspas são do próprio artista, destacadas pela curadoria da exposição no Old Town Hall, galeria de arte localizada em Praga, na República Tcheca, onde tive a oportunidade de conferir estes trabalhos.
Outra ótima citação do cantor a respeito de suas produções gráficas justifica suas mil maneiras de contar histórias sobre seu próprio tempo e espaço. “Havia milhões de histórias acontecendo todos os dias, se você quisesse se concentrar nelas. Estavam bem à sua frente, todas misturadas, mas era necessário se separar dos fatos para se retirar qualquer sentido disso”.
Bob Dylan nos prova, uma vez mais, que pode transitar sem esforços entre acordes, palavras, voz e tintas. Um inegável cronista dos nossos tempos, em todas as expressões artísticas. Inclusive nas artes visuais.