Tulipa Ruiz chega ao seu quarto disco de forma diferente: um projeto gravado em Nova York, lançado apenas em formato digital e que revisita canções de seus trabalhos anteriores. A primeira questão que fica é: em tão pouco tempo, é necessária essa revisitação da própria obra de uma artista tão jovem?
Tu, o novo disco, chega depois do super pop Dancê, disco de 2015, ganhador do Grammy Latino de melhor álbum de pop contemporâneo brasileiro. Nesse novo trabalho, em contrapartida, [highlight color=”yellow”]é tudo mais calmo[/highlight], quase acústico, em versões que Tulipa chama de formato “nude”, algo mais intimista.
A ideia inicial de Tu era apenas revisitar faixas já gravadas, porém no processo de gravação surgiram canções inéditas e que complementam o disco. Produzido por Gustavo Ruiz, irmão de Tulipa, e pelo francês radicado no Brasil Stéphane San Juan, o novo disco é uma possibilidade de expansão latina da carreira da cantora e compositora.
A ideia inicial de Tu era apenas revisitar faixas já gravadas, porém no processo de gravação surgiram canções inéditas e que complementam o disco.
Tulipa fez turnês pela América Latina nos últimos anos e inclusive lançou “Efímera”, uma versão em espanhol de sua faixa “Efêmera”. Nesse sentido, Tu apresenta algumas de suas faixas de forma nova, indo de encontro a outros ouvintes e ainda traz a ótima “Terrorista del Amor”, faixa cantada em espanhol ao lado de Adan Jodorowski (músico, ator e diretor mexicano, filho de Alejandro Jodorowski).A faixa em questão foi composta por Tulipa e Gustavo ao lado de Paola Alfamor, Saulo Duarte e Ava Rocha e tem um refrão pegajoso, com potencial para ser hit alternativo em diferentes países.
Além de “Terrorista del Amor”, há ainda as inéditas “Game” (faixa ok, mas um tanto esquecível), “Pedra” e a excelente “Pólen”, penúltima faixa do disco, composta apenas por Tulipa, canção que assume uma força melancólica e bela em sua curta duração. Além destas, ainda há a faixa título “Tu”, poeminha singelo e rápido.
Entre as regravações, surge “Pedrinho”, lá do Efêmera, numa versão gostosa de se ouvir e que, mesmo acústica, ainda segue dançante. De Tudo Tanto vem “Desinibida” e “Dois Cafés”, sendo que esta última surpreendentemente funciona muito bem na versão nude, já que difícil competir com sua versão original, ao lado de Lulu Santos, que é excelente. Já do recente Dancê surge “Algo Maior”, faixa que era originalmente acompanhada do Metá Metá, numa versão bastante climática. Aqui ela parece menos impactante, mas ainda assim bastante bela.
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O saldo de Tu, à primeira vista, [highlight color=”yellow”]parece menor em relação aos discos de inéditas da artista[/highlight], porém ele surge como um projeto distinto: gravado em um curto espaço de tempo, ele busca trazer novas conexões com as canções já conhecidas e com as novas, nesse foco mais calmo, menos agitado, menos veloz.
O fato é que Tulipa parece cada vez mais consciente de sua voz e cada vez mais senhora de seus versos, por isso mesmo Tu soa tão encantador. Ele não traz grandes novidades, isso é verdade, mas ele nos apresenta uma tranquilidade e uma simplicidade, sem nunca cair no comum ou no banal.
Para a maioria dos artistas contemporâneos de Tulipa seria um exagero revisitar suas canções assim em tão pouco tempo, porém, no caso dela, isso funciona de forma certeira e natural. Tulipa já é uma das grandes artistas da música brasileira nesses anos 2010, isso é fato, por isso mesmo Tu apenas reafirma sua força enquanto cantora primorosa, mas, além disso, [highlight color=”yellow”]como uma compositora de olhar único[/highlight].