Não é novidade que o Paraná tem uma cena hip-hop das mais criativas do país – certamente uma das mais prolíficas. Enquanto os nomes e os grandes discos se acumulam, a cena se fortalece e vamos ficando cada vez mais exigentes. De Campo Mourão, o rapper Careca, também conhecido como Poeta Loko, é mais um dos nomes responsáveis pela manutenção desta tradição criativa.
Líder do Rajada MCs, com quem ganhou notoriedade, a ponto de abrir para grandes grupos do gênero como Racionais, Realidade Cruel e Império Z.O., Careca tem em seus versos uma de suas maiores virtudes, juntando um lirismo requintado com uma visão única sobre o popular, sem esquecer que seus trabalhos com o Rajada MCs como Respeito, Justiça e Dignidade Ativa, de 2004, O Tempo É Rei, de 2006, e o disco duplo Rajada Nova Mente, de 2013, ficaram marcados pela ousadia de suas composições, batidas e samples. O mesmo foi possível ser visto na mixtape Rap do Interior, lançada em 2014. Incluindo uma homenagem à mãe, Poeta Loko parecia cada vez mais consolidar sua veia poética.
Artista plural, envolvido em projetos culturais direcionados ao atendimento de crianças e adolescentes via oficinas de hip-hop, desde 2016 comanda a Rap do Interior TV, um canal no YouTube em que entrevistas nomes da cena hip-hop do Paraná, também atuando como um meio disseminador da produção local, muitas vezes sendo o primeiro a dar visibilidade a novos artistas e movimentos da cultura hip-hop.
Careca tem em seus versos uma de suas maiores virtudes, juntando um lirismo requintado com uma visão única sobre o popular, sem esquecer que seus trabalhos com o Rajada MCs.
Introspectivo, seu mais novo trabalho solo, deixa mais uma vez clara a facilidade e a versatilidade com que passeia por diferentes vertentes do rap, ora no trap, ora no gangsta, por exemplo. O disco tem uma atmosfera bem característica dos trabalhos em que se envolve. Se é de se perguntar o que ainda resta a se dizer, passados mais de 10 anos de carreira, através das rimas de Careca, faixas como “Pode Acreditar”, “Paraná na Cena” e “Tem que Ter Fé” mostram que o tempo não é um empecilho para o rapper de Campo Mourão, que mantém afiado seu olhar ao universo que o cerca.
Nesse período de atuação, o universo da música mudou, o espaço concedido ao hip-hop é muito maior, o gênero, ainda que lance olhar ao universo periférico, não se esconde mais nas margens, mas ainda se conecta com a realidade das mesmas pessoas, e é neste contexto que encontramos o disco de Careca.
Introspectivo foge à regra que tem se tornado comum em lançamentos do rap nacional – a criação de dois lados bem definidos, como um analógico LP que se divide em “Lado A” e “Lado B”. A organicidade do registro, resultado da forma como o engendrou, transparece a cada faixa do disco, mais um exemplo de como o rap feito no Paraná é bem produzido e dialoga, inevitavelmente, com o público que se vê nele (e por ele) representado.