Ela tem apenas 30 anos, o que em termos musicais equivale mais ou menos a um bebê ou a uma criança pequena. Seu som, no entanto, soa cada vez mais adulto, mais pessoal, com uma identidade bem definida e uma sonoridade madura. Courtney Barnett provavelmente pertence a uma longa linhagem de cantoras alternativas que parece pouco – ou nada – se importar com o que as pessoas pensam.
Consideravelmente mais jovem que a maioria que se encontra em atividade hoje, Courtney acabou de lançar seu segundo disco, Tell Me How You Really Feel, depois do bem-sucedido Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit e da parceria com Kurt Vile. Ainda explorando sonoridades que vão na linha do folk e do indie, Courtney parece ter querido responder na letra aos questionamentos do fãs e a todos àqueles que a interpelaram sobre suas letras nos últimos anos.
Esse talvez seja o grande mérito do álbum, para além de soar delicado e deliciosamente leve, possui letras que carregam as reflexões da cantora sobre a fama nos últimos tempos. Tell Me How You Really Feel possui aquela equação agradável de forma e conteúdo que acontece de tempos em tempos, e que está cada vez mais rara, um álbum que concilia letras interessantes e músicas que de fato dão vontade de serem ouvidas mais de uma vez.
Esse talvez seja o grande mérito do álbum, para além de soar delicado e deliciosamente leve, possui letras que carregam as reflexões da cantora sobre a fama nos últimos tempos.
Em um dos pontos altos do disco, a faixa “Nameless, Faceless”, a cantora responde um troll da internet (“He said “I could eat a bowl of alphabet soup/ And spit out better words than you”/ But you didn’t /Man, you’re kidding yourself if you think”) e, no refrão, encara sem medo a dura realidade de ser mulher, ao entoar a máxima da escritora canadense Margaret Atwood, que diz que homens têm medo que as mulheres riam deles, mulheres têm medo que os homens as matem.
Tudo no álbum é tecido de maneira orgânica e, por vezes, ligeiramente melancólica, porém com um fundo de doçura que deixa tudo mais fácil de ser digerido. Sem medo de falar de machismo e outros temas polêmicos, Barnett soa como uma letrista madura e experiente. Uma das faixas que foi escolhida como música de trabalho do disco foi “Hopefulessness”, em que as guitarras lentas acompanham um vocal suave que diz “You know what they say/No one is born to hate/We learn it somewhere along the way/Take your broken heart/ turn it into art”.
Longe de soar poeticamente hermético ou sequer vagamente inacessível, toda a composição e a organização de Tell Me How You Really Feel consegue alternar faixas mais agitadas e com uma levada mais pop com doses de seriedade e melancolia, que apenas chamam ainda mais atenção para Courtney e sua capacidade como compositora, seu desejo de se aventurar em searas mais áridas, que acabam se tornando aqui verdadeiros oásis. Um trabalho primoroso.